domingo, 14 de abril de 2013

Canção de amor

Antes de juntar o meu all star lilás com o sapato social preto do Rô, eu tinha muitas dúvidas. Duvidava se o amor seria o mesmo depois de algum tempo, sobre o massacrante teto da rotina... um teto físico, real.

Quando isso aconteceu, todo mundo pensou: Aleluia! Até que enfim... pensei que iam namorar por mais 9 anos!

Mas eu tinha medo. E ele também. Falávamos pouco sobre isso... talvez numa tentativa de não tornar o medo algo real.



E tudo aconteceu sem pressa, formalidades, planejamento ou pedido oficial de casamento.
Casa comigo? Não, tô vendo 'todo mundo odeia o Cris'.

Acho que no nosso caso, pedidos oficiais de casamento não cairiam nada bem.
Não tem a ver com quem somos, com quem fomos ou com quem seremos.

Seria uma piada. Seria excrucitante, como diria minha adorada Clarice Lispector.

Não sei nem imaginar uma cena pra isso. Mas poderia ser algo como, um altar depois de um tapete colorido, talvez parecido com o da parada gay, porque eu gosto é de cor minha gente... uma música de palhaço, e todo mundo dizendo junto, ao mesmo tempo, seus votos de felicidade pra gente, da forma mais informal possível.

Eu entraria vestida de princesa Xena ou de Ariel (com peruca vermelha e tudo).
E ele... bom, pelo que conheço (e amo) estaria vestido de calça social e camisa branca, achando tudo aquilo uma mistura de patético com 'Fernanda'. Acho que riríamos muito.

Daí, que nada disso aconteceu e estamos aqui, num lugar naturalmente 'acontecido'.

Meu medo não passou. E provavelmente o dele também não.
Pensei numa coisa bonita hoje cedo:

Porque a gente tem medo de algo que outros nunca irão conhecer?
Isso além de assustar deveria ser especial! Só nós dois conhecemos os detalhes mais especiais um do outro.

Ninguém sabe mais que ele hoje em dia, como eu fico quando tô com sono ou fome.
Só eu sei e já não me incomodo tanto com o fato de ele gostar de beber café frio.

E as caras que antecipam um ataque histérico de um ou de outro? Só nós conhecemos.

E saber qual é exatamente o sabor do brigadeiro perfeito pra comprar e me dar de presente?
Não como qualquer brigadeiro, não gosto da maioria, e ele sempre come os restos depois da minha primeira mordida, quando me decepciono com o gosto.

Com quem mais eu poderia fazer um acordo silencioso de 'você lava a louça e eu a roupa'. Tá na cara que não dá pra manchar um copo, mas uma camisa sem dúvida... então deixa comigo (que eu mesma mancho, haaaa!).

E sobre a pressa de chegar, de sair, de voltar ou de ficar? Nem todo mundo conhece.

E dá-lhe Renato Russo...

Ele pra mim:
Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta

Ele pra ele:
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço

E eu, canto todas as partes, porque nasci pra cantar!

Hoje fiquei pensando que o que eu mais gosto atualmente, é o fato de não ter que explicar quem eu sou. Eu sou um dicionário já lido ou um manual já estudado nas horas de pane.

Muitas vezes, com pessoas que acabo de conhecer, o que acho mais trabalhoso é ter que explicar quem eu sou. Não tô falando de explicar do que gosto, o que faço, que músicas ouço. Isso não define quem eu sou. Tô falando das caras, bocas, silêncios, barulhos, cantorias, dancinhas, imitações, ausências e presenças - isso me define.

E pra isso é preciso tempo. Então, voltando ao começo, talvez tenhamos tido medo por termos tido muito tempo... são 9 anos minha gente! Dá pra dizer então, que eu tenho mais medo daquilo que conheço, do que do que desconheço - é bem a minha cara! E acho que a dele também.

A gente sabe quem é. E por isso todo o medo. Que bonito.

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