quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Uma deusa de joelhos

Hoje ouvi uma música no rádio, que eu não ouvia há muito tempo.
Já aconteceu isso com você?

Se a música é animada como essa então.... virgê! Estourei os tímpanos. Não os meus. Os das pessoas dos carros vizinhos. Os meus já são estourados há muito tempo, pela minha própria voz, sou gritalhona, escandalosa, italiana e baiana. Vim sem o mute.

Você pode ouvir a música no final desse texto, pra você não achar que sou louca.
A música é muito boa, porque é animada e porque dá vontade de fumar num conversível vermelho com um lenço esvoaçante e florido na cabeça, um batonzão vermelho na boca, um óculos escuro enorme, tudo isso enquanto viaja por uma costa de algum litoral importado chiquérrimo. E como se precisasse, além de tudo isso, essa música diz umas verdades... pelo menos sobre mim.

Quem canta é uma garota chamada Meredith Brooks, e se chama 'bitch'. Isso mesmo.

E traduzindo, fica assim:

Sou uma puta, sou uma amante,
Sou uma criança, sou uma mãe,
Sou uma pecadora, sou uma santa,
Não realmente não me sinto envergonhada.
Sou seu inferno, sou seu sonho,
Não sou meio termo,
Você sabe que não gostaria que fosse de qualquer outro jeito.

Demais né não?
Eu sou todas essas coisas. E antes que alguém dê à palavra 'puta' a conotação que geralmente essa palavra tem, vou dizer o que eu acho que é 'puta'.

Sou puta quando não faço o que eu acho que preciso fazer. Principalmente as coisas corretas.
Também sou puta quando acho que meus direitos estão à frente dos direitos dos outros - e quando eu simplesmente fecho os olhos pro que o outro diz.

Amante nem se fala! Tem um tanto de coisas nesse mundo que eu amo.
Sou criança, mãe, santa e pecadora. Tudo ao mesmo tempo. Quem aguenta?

Mas o que eu mais gosto no refrão é 'não sou meio termo'. Tem muita coisa que eu sou, mas meio termo é algo que não sou.

E isso as vezes pode parecer radicalismo, mas no fundo (pra fechar com chave de ouro esse refrão incrível): 'Você sabe que não gostaria que fosse de qualquer outro jeito.'

E é engraçado pensar que apesar de eu não ser meio termo, eu sou muitas em uma só!
Mas acho que é porque quando cada uma de mim se revela, ela é inteira.
Inteira pecadora, inteira mãe, inteira santa, inteira criança. Acho que o nome disso é integridade.

Sou uma deusa de joelhos, diz a música.

Que bonito isso: uma deusa de joelhos.
Imagina? Bom, já posso começar a rir de mim mesma: ajoelhada com minhas sandálias gregas apertadas e meu vestido dourado espalhado pelo chão.

Aí vai a música, aumente o som: http://www.youtube.com/watch?v=rhfiiGGy7Ls

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Vendo amor

Nessa semana vi algumas coisas e achei que devia registrá-las aqui.

Sabe aquele ator chamado Alexandre Nero? Que fez a novela com o Crô?
Um dia o vi num programa de TV, e pra minha surpresa ele revelou que é cantor também. Um grande cantor e compositor aliás.

Ele tem uma música linda, chamada 'Lave, leve, love'. A música diz assim:

O que é o amor e onde estará
Será que esta na sala de estar?
Correndo pelo corredor
Ininterrupto interruptor
Desperdiçado na despensa


É só amor é só amor que move
lave, leve, love
Lave-me água de chuva
leve-me para ver o mar e
love me


(http://www.youtube.com/watch?v=XNBoW4A0UHk)

Que bonitos os trocadilhos. O nome do CD é 'Vendo amor':
Vendo de vender
Vendo de ver
Vendo de vendar

E ver é mesmo amplo demais, não é?
Então, isso foi tudo que vi nessa semana:

# Uma lombada com buraco.

# Muita chuva e pouco sol.

# Tomates recheados.

# Mais café na xícara que o normal.

# Uma cama só pra mim, porque meu amor viajou.

# Uma pia cheinha de louça, pelo mesmo motivo acima.

# Um cachorro batendo na minha porta e sentando quando eu a abri.

# Uma dupla de caras tocando violino e violoncelo no parque. Uma menina que era estudante de música, passou e pediu pra tocar um pouquinho - os amigos dela ficaram na torcida.

# Uns trechos da reprise de Lagoa Azul na sessão da tarde.

# Uma fantoche chinesa com uma boca enorme e olhos puxados, num hospital.
Era pra fazer rir quem esperava. Eu ri.

# Biscoitos da sorte de tecido, pra você escrever no bilhetinho que vem dentro o que bem desejar, e dar pra alguém querido.

# Um rato do mato atravessando a rua do parque. Acho que é esse o nome dele: rato do mato.

# Uma foto de um cara com um elefante ao fundo, e pensei que ele deve ser feliz, afinal, conheceu um elefante 'quase livre'. Ele me disse que é um elefante de um templo indiano.

# Pessoas desconhecidas ajudando um projeto lindo (onde está meu coração agora) a virar realidade: http://catarse.me/pt/anossajornada

# Dinheiro caindo na conta. Dinheiro saindo da conta. Contas pagas. Amém.

# Uma história que tô lendo se holografar na minha frente a cada novo detalhe. Os personagens se tornaram meus amigos.

# Gente falando de inovação, de empreendedorismo, de fazer melhor, diferente, de comover.

# Um astrólogo me falando sobre mapa de propósito da alma.

# Um presente lindo que ganhei da Frida. Papeizinhos quadriculados, uma caneta e um círculo de madeira pra eu fazer milhares de mandalas:

 
# Meu What's App, SMS, e-mail, facebook apitarem no celular. É muito.

# Roupas esturricadas no varal. Ficaram lá mais tempo que o necessário.

# Roupas esturricadas na tábua de passar. E eu sei, no meu íntimo, nunca serão passadas.

# Postes falantes:

Não sei qual o resto... Qual o resto?



Ver é uma benção. Acho que a maior que eu poderia ter recebido, e sou grata por isso.
E se você ajudou de alguma forma, a botar essas coisas na minha frente, saiba, eu sou grata por você também.

domingo, 6 de outubro de 2013

Conecte-se ou...

Estava trabalhando quando de repente o computador me mostrou a seguinte mensagem:
"Conecte-se ou encontre outra fonte de energia."

Opa... hora de parar. Hora de ir embora, enfiar a cabeça debaixo do chuveiro de roupa e tudo.

Quando li a mensagem pensei: será que ele escaneou minha cara e essa foi a forma que ele encontrou de me mandar parar?

Parecia que sim. Quando li, juro que não pensei em pegar a bateria e liga-la na tomada e no computador. Pensei em como talvez eu precise mesmo encontrar outra fonte de energia, pra mim.

Essa mensagem não parece tirada da vida real?
Fernanda, conecte-se amor. Fernanda, darling, encontre outra fonte de energia, porque as que você usa já não são suficientes (ou não são as melhores).

Ando querendo desaprender, desaber, desandar, despensar, como diriam em Saramandaia.

Sempre gostei de pensar muito, em tudo. O Rodrigo fala que eu sou mais racional do que imagino.
Sempre achei que não. Agora acho que sim, penso demais e isso tem me esgotado. Tem uma música linda que adoro, ela diz: quando você pensa mais do que você quer, seus pensamentos começam a sangrar. É por aí.

Então, o computador sempre esteve certo? E por que ele não me mostrou essa mensagem antes?
Deve ser porque eu acreditava estar conectada até então.
Mas com o que?

Querido computador, não quero mais me conectar, quero encontrar outra fonte de energia.
Então, vou ficar um pouco mais de meias de dormir, descabelada e até sem banho. Vou ganhar cutículas enormes e unhas irregulares daquelas que enroscam na roupa.

E que ninguém estranhe de me ver sem um batonzinho, ando com uma preguiça danada. E encontrar outras fontes de energia tem me tomado muito tempo.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Até a pilha tem dois pólos

É muita dualidade nessa vida, né não?

A gente recebe cartão de aniversário onde quase sempre está escrito:
"Continue sendo essa pessoa maravilhosa que você é!"
E aí, a gente acorda de manhã e sai pra vida, e lá fora a gente escuta:
"É melhor você mudar isso. A gente tem que se reinventar todos os dias."

Devo mudar ou não?

Você vai dormir toda noite rezando pra que o mundo se cure, e acorda com um noticiário incrível relatando toda a tragédia da madrugada, que em tese, serviria para a cura do planeta.

Torcemos pra termos saúde, dinheiro e amor, mas somos infalíveis ao recitar diversos mantras diários quando nos perguntam sobre essas coisas:
"É, a coisa não tá fácil, a grana tá curta."
"Tô super gripado... desde de janeiro."
"Quando as coisas melhorarem..."

Uma coisa é fato, o que chega pra nós é o que a gente propaga. Por isso, sempre tenho dinheiro e saúde, mesmo consultando o gerente do banco ou o clínico geral vez ou outra.

Coisas fantásticas são feitas todos os dias, e no entanto não sabemos quase nada sobre elas.
Aprender é importante, mas pagar as contas é muito mais. É bom ter foco.

Um país usa armas químicas e o outro quer mostrar que não é assim que se faz e pra isso eles planejam um ataque. Como?

Tem a esquerda e a direita. O preto e o branco. Eu e você: isso já é dualidade suficiente.
Em que momento a gente aprendeu a reconhecer os opostos? E em que momento a gente aprendeu a achar que eles são iguais?

A gente tem cachorro e come vaca. Samba e reclama do país. Compra e não tem dinheiro pra pagar sem se vender. A esperança é a última que morre, e a paciência é a primeira.

As vezes fico na dúvida se isso tudo é um duelo ou uma dualidade.

A vida é um pastel sabor romeu e julieta, e quase sempre a garçonete entende seu pedido errado e acaba trazendo só o romeu ou só a julieta. Pra felicidade das famílias, estão enfim separados.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

75% OFF

Andando pela casa, vi uma cena da novela que me fez parar:
O Lino, que mora num vilarejo, ganhou dinheiro como modelo na cidade grande e resolveu comprar coisas bem úteis e legais pra sua vó: fogão elétrico e micro-ondas.

Na cena, ele estava explicando como ligar cada um dos aparelhos. Ela ficou encantada. Disse que ele não precisava ter se preocupado com ela, mas que ela iria aprender como usar cada um direitinho, e que agora, ele era o homem da casa. Ela ficou bem emocionada com os presentes.

Fiquei pensando: eu gostaria de ter feito isso pela minha vó.
Não pensei nisso de forma triste, com amargura ou arrependimento por não ter feito isso.
Só pensei que seria bom ter tido uma cena dessas com ela.

Mas pensando agora, não sei se minha vó gostaria de ter ganhado mais coisas materiais na vida - e sim, ela tinha fogão elétrico e micro-ondas.

Acho que o que estou aprendendo agora, minha vó sempre soube: Não precisamos de muito, não precisamos de nada que esteja fora da gente, e isso inclui todos os bens materiais que compramos seguidamente só porque um cartaz colorido na loja aponta 'Pro-mo-ção'.

Vejo tantos cartazes por aí: sale, liqui, liquidAÇÃO, 50% off, 75% off.
Hoje eu coloco o meu cartaz aqui:
 

Tenho me desconectado da complicação que é suar, ganhar, comprar, pagar, pagar, pagar, suar de novo, ganhar de novo e comprar, comprar e comprar. E pre-pa-ra: suar, ganhar. Mais desgastante que duas horas de malhação, e menos eficiente também.

Acho hoje, de verdade, que posso viver com menos matéria. A matéria de que preciso está em mim e nos outros com quem me conecto. E só.
Não preciso e não quero o carro do ano, uma geladeira que fala comigo ou um celular que não poderei deixar cair no chão nunca.

Não é falta de ambição, é excesso. Eu tenho uma ambição:
Que o meu dinheiro possa me ajudar a ter mais tempo e mais ideias mirabolantes. Que ele possa me ajudar a estar atenta pra ajudar o outro, nem que seja com a minha presença em algum lugar por aí.

Minha vó dizia desde sempre: Qualquer paixão me diverte!
Que beleza vó! Ela se referia a 'não preciso de muito, pra mim, qualquer coisa tá bom'.

E acho que quando ela dizia 'qualquer coisa tá bom', ela não se referia necessariamente a receber qualquer coisa, porque a gente pode negar coisas. Mas acho que quando alguém está aberto pra qualquer paixão que vier, essa pessoa pode não saber o que vem, mas sabe que é coisa do bem.

De vez em quando, ela dizia essa frase com um arrastado 'qualquer paixão me Adiverte'. E ó que slogan bom: Qualquer paixão me ADVERTE!

Porque as paixões, sejam quais forem, advertem mesmo. Advertem que vale usar tempo e não dinheiro, que qualquer coisa material não vai te dar nem de longe o que você espera que ela dê - porque é você quem espera, quem cria a expectativa.

Nunca fui muito consumista e nesse ano tenho aprendido a ser menos ainda. Passo ilesa e sem chororôs pelas lojas de um shopping, não fico louca com as propagandas da TV ou com as promoções, e nem 'preciso fazer a unha toda semana, se não eu morro'. Também não tenho listas de coisas a comprar, sonhos de consumo ou desejos caríssimos.

Quando penso em comprar algo também penso: E se eu não comprar? O que acontece?
A resposta geralmente é: nada.

É dar um novo significado ao dinheiro. Um significado que ele já teve, antes de ser inventado: o da experiência.

domingo, 11 de agosto de 2013

Um DNA perfeito

Acontece que um dia fui almoçar fora e pedi um risoto de tomate seco.
Era um dia de semana, e a praça de alimentação do pequeno mall estava meio vazia.

Fiz meu pedido e esperei. Fazia muito frio e eu queria mais era ir embora dali.

Finalmente chamaram minha senha, e fui apressada buscar meu risotinho no balcão.
Comi rápido e rasteiro, e fiquei feliz por aquilo ali estar tão gostoso.
Pensei então, que talvez a cozinheira devesse saber disso. No balcão, pedi um papel, caneta e escrevi um bilhetinho:
"Eu não sei se fazer um risoto é fácil ou difícil. Sei que ele estava maravilhoso. Eu não sei cozinhar. Obrigada, meu dia ficou muito melhor! Um abraço, Fernanda"

Pedi pra que a moça do balcão entregasse diretamente pra cozinheira, e que não se preocupasse, pois era um elogio. Ela virou lentamente pra janelinha onde ficava a cozinheira, tentando talvez nessa virada, passar os olhos e ler partes, se não tudo, do que eu havia escrito.

Sei que entregou o bilhetinho, porque vi a transmissão, mas logo me virei e sai. Não sei qual foi a reação.

Daí pra frente, já distribuí novos bilhetinhos. Fui à papelaria, comprei um bloquinho colorido e duas canetas, uma rosa e outra roxa. Deixo esse kit na bolsa, para o caso de eu precisar dizer que alguém se superou.

Em todos os casos seguintes, percebi que o mais divertido, é ver a reação de quem recebe um bilhetinho. Eu não deveria mais mandar alguém entrega-lo por mim.
O bilhete não importa mais, o que importa agora é a reação de quem recebe. Eu adoro vê-la.

Ontem, fui comer algo no shopping com meu namorado. Nada de restaurantes, estávamos com pressa e fomos então ao 'guichê' da Pizza Hut. Admirados, notamos que as atendentes que estavam do lado de fora do balcão com cardápios a postos, eram senhoras - Que felicidade! - pensamos em conjunto.
Que maravilha descobrir que uma empresa valoriza as pessoas mais experientes, mais velhas.
Essas pessoas são sem dúvida, mais simpáticas, atenciosas e arrisco a dizer até carinhosas ao nos atender.

Imagino que isso aconteça, porque elas já não precisam mais impressionar. São quem são, vivem plenas. Talvez tenham problemas, mas sabem que um olhar com intenção é percebido pelo coração.

Uma senhorinha então, nos apresentou o cardápio com as opções de pizza e bebidas que podíamos escolher. Ela não disse quase nada, apenas sorriu, apontou o cardápio e aprovou nossa decisão, quando enfim escolhemos o que íamos comprar.

Seguimos na fila, fizemos o pedido, pagamos. E eu sabendo que deveria falar sobre aquilo, saquei meu bloquinho, minha caneta roxa e escrevi pra ela:


A senhorinha, como todas as outras pessoas que recebem um bilhetinho meu, disse imediatamente:
"Pra mim?"
Eu disse "sim".
Ela então, procurou os óculos pendurados no pescoço, colocou-os na cara, apoiou o bilhetinho no cardápio, leu devagarinho, se virou, olhou pra mim, sorriu e abriu os braços. Ela me abraçou!

Isso não era um bilhetinho. Era um abraço. Era a felicidade dela, em mostrar segundos depois, seu bilhetinho pra colega de trabalho. Era provavelmente a empolgação dela, ao chegar em casa e contar aquela cena pro marido ou filhos.

E sei que provavelmente era também, toda a estranheza e esquisitice que um momento como esse pode proporcionar a alguém.

Dias atrás, minha grande amiga Janaina, se empolgou em multiplicar por aí alguns bilhetinhos carinhosos. Desse jeito, vamos criar um novo mundo, pensamos! E olha o que ela fez:


Acreditamos agora, eu e Jana, que as pessoas precisam saber o quanto elas mudam e melhoram nossas vidas. Elas precisam descobrir sobre isso. Precisam saber de seus poderes.

E pensando que tantas vezes reclamamos das coisas, dos jeitos e das atenções que nos foram dadas, que começar por elogiar, vai numa contramão deliciosa. Reforçar boas atitudes e experiências, faz com que, não só o outro se empenhe em ser ainda melhor, como também faz com que ele não perca tempo com coisas nas quais ele talvez nunca seja bom.

É sobre focar nas maravilhas de cada um, sobre deixar o outro saber que ele é perfeito.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Céu de brigadeiro

Isso é sobre ajudar as pessoas e a si mesmo.

Até bem pouco tempo atrás, pensava que manifestar ao mundo que eu estava ajudando alguém de alguma forma, era algo horrível.

Acho que é porque em algum lugar na Bíblia diz que se você ajuda o próximo, não deve sair por aí falando. Concordo em partes. Algo em mim diz que se você alardear e usar suas doações e caridades apenas como uma espada para ferir o outro, pra mostrar a ele o quanto você é bom e o quanto ele não faz nada em prol da humanidade - que isso é ruim. Algo me diz que não deve ser assim.

Mas passei a enxergar as coisas de forma diferente de uns tempos pra cá, de uns dias pra cá.
Vejo no mundo, em alguns lugares, tanta falta de fé e esperança que talvez um dos nossos papéis na vida seja mostrar ao outro, através do nosso amor e gratidão, o quanto é fácil, bom e divertido ajudar a quem precisa. Então, seguindo por aí, penso que o outro, o reflexo de quem somos, só precise ser contagiado com essa energia, com essa vibração, e antes do Natal.

Então, porque não falar da ajuda que podemos dar? Porque fazer disso algo velado, quando tantas maldades por aí são descadaramente projetadas na nossa frente todos os dias?
Porque esconder que em nossa essência temos muitas coisas boas?
Porque não mostrar que podemos nos ajudar? Que podemos criar uma energia circulante positiva se todos nos ajudarmos simultaneamente?

Nessa semana, quando voltava do RJ, fiquei observando todas aquelas pequenas luzes lá embaixo, através da janela do avião. Não sei o que me abateu, mas por alguns instantes me senti feliz por não estar lá embaixo, por não ser mais uma luzinha. Não estando lá embaixo, eu podia enxergar com total clareza, que não, eu não tenho problemas, e que eu devo ser grata.

Considero problemas, coisas que consigo resolver, e se consigo resolve-los de alguma forma, eles então, não são mais problemas. Coisas para as quais não tenho a solução ou não estou preparada para resolver, para lidar - não são problemas - são situações com as quais precisarei conviver. Precisarei aprender a contorna-las, de preferência sem borrar o desenho. Usando a canetinha mágica que Deus me deu.

Voltando ao avião, pensei que me afastar das minhas "encucações", mesmo que por 50 minutos, poderia de alguma forma me libertar pra ver o outro. Lá embaixo. O outro que é parte de mim, porque vivemos num mesmo Universo. Era como se meus olhos tivessem sido descobertos, e meus ouvidos destampados - silenciei e ouvi (inclusive por falta de ter com que falar naquela hora).
Ouvi e vi, que talvez a Maria, o José, a Ana, o Pedro, e todas as outras luzinhas lá debaixo, poderiam de alguma forma receber meu amor e ajuda. E que talvez, se essas luzinhas tivessem a oportunidade de sobrevoar as outras luzes, pensariam também que seus problemas - ah, que problemas? - eles podem ser resolvidos, ou que são menores do que pensam. A lupa do olhar estaria mais distante... e o problema menor.

Tenho acreditado que ajudar o outro é uma grande forma de ajudar a si mesmo. A energia circulante, gira por aí como numa pintura de Van Gogh e volta pra você. Foi isso que eu vi lá de cima...


Vi do avião, que cada luzinha merece estar exatamente onde está. E pensei que eu talvez devesse descobrir alguma forma de chegar a cada uma.
Se tem uma linguagem ou algo que todo mundo aceita, é o amor.

Lá de cima, eu só queria ajudar. Só queria descer dali pra isso, não pra desembarcar.
Chico Xavier disse pra mim: Você nem sempre terás o que desejas, mas enquanto estiveres ajudando aos outros, encontrarás os recursos de que precisa.

E nem todos os recursos são financeiros. A maioria não é. As vezes, vale abrir mão de quem somos, pra nos tornarmos quem realmente devemos ser. Abrir a escuta, o coração e doar meu amor, tem sido um exercício diário. Você não acreditaria se imaginasse o quanto me esforço nesse caminho, porque sei que tenho que ajudar o outro a tempo. A tempo de ele ainda precisar, a tempo de ele querer, a tempo de ele se curar, a tempo de ele ajudar alguém.

E acho agora, que tudo que envolve uma doação sincera e verdadeira de amor, deve sim ser compartilhado, espalhado e espelhado. Porque isso muda o mundo. Porque nós somos feitos de açúcar. E não é a toa. É pra voar por aí.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Coisas que escutei em um dia de vida

Ontem, quarta-feira, foi um dia em que escutei coisas incríveis e de pessoas que pouco conheço, mas que de alguma forma afetam minha vida se pensarmos que o universo está conectado por vários pontinhos especiais.

Logo cedo, ouvi: Você é uma menina mimada.

Depois fui caminhar um pouco numa região central de SP, e escutei milhares de outras coisas.
Um senhor que nunca vi antes estava ajoelhado na calçada, com um caixote a sua frente. Em cima do caixote havia um potinho pra que, quem tivesse algum tempo, deixasse alguns centavos.

Decidi então fazer mais que isso, resolvi conversar com ele.
Eu: Como o senhor se chama?
Ele: XYZ
Eu: E o senhor mora por aqui?
Ele: Não, moro em Guarulhos.
Eu: Arrasou, minha mãe mora lá! Eu também vivi lá por anos.
Ele: riu!
Eu: E porque vem de tão longe? Até que horas fica aqui?
Ele: Ahh, lá em Guarulhos não tem como fazer isso, é tudo muito lotado. Eu gosto de ficar assim sozinho pedindo meu dinheiro. Fico aqui até umas quatro.
Eu: E pra que o senhor precisa do dinheiro?
Ele: Pra comprar meus remédios.
Eu: Entendi... toma muitos?
Ele: Muitos. Olha só a lista...

Ele então saca uma lista organizada do médico, um receituário, um envelope cheio de exames recentes.

Eu: Caramba!!! Vou te ajudar. O senhor trabalhava com o que antes de vir pra cá?
Ele: Com o pessoal do movimento do sem terra... era um pegando terra do outro.
Eu: Caraca. E a suas pernas, o que aconteceu? Notei que ele usava uma espécie de bota.
Ele: Ahh, isso aqui foi queima de arquivo, eu sabia demais.
Eu: Pesado isso hein... que complicado. Difícil. E o senhor mora sozinho?
Ele: Moro, mas tenho um cachorro.
Eu: E como ele se chama?
Ele: Juju.
Eu: Mas isso é um nome feminino. Falei rindo.
Ele: É... mas eu tô quase dando ele. Ele é muito bagunceiro, come tudo meus calçados.
Eu: ri.

E por aí foi...

Andando mais um pouco, encontrei um poeta barbado. Ele olhou pra mim e disse:
Ele: Você se interessa por poema?
Eu: Sim.
Ele: Você é muito bonita sabia!!
Eu: Obrigada.
Ele: Você trabalha com o que? O que você faz?
Eu: não importa.
Ele: importa sim...
Eu: com XYZ...
Ele: entendi... isso é importante!
Eu: é sim.

Peguei o folheto que ele entregava e depois de um tempo li ao final de um poema:
"... e rir pois tudo é brincadeira
que cada drama
é só nosso modo de ver a vida
só está nos mostrando aquilo
que estamos criando
com o nosso poder de crer."
Antônio L. Júnior

Não é que faz sentido?

Enquanto fazia as unhas (artigo de luxo pra mim), conversei com a manicure:
Ela: ...a minha filha vive com qualquer roupa, umas calças largas, um moletom.
Eu: Quantos anos ela tem?
Ela: 16.
Eu: Aposto que anda na maior parte do tempo, desgrenhada também. E ri.
Ela: ahãaam. E riu.
Eu: Eu era assim também, passava o final de semana inteiro de pijama, enquanto as garotas da minha idade estavam atrás de namoradinhos... eu tinha coisa melhor pra fazer: dormir. E ri.
Ela: Ahhh, eu também prefiro, se não vira uma piriguete. Mas será que é isso... falta de interesse nos meninos?
Eu: Ri, e pensei 'a essa altura ela acha que sou lésbica, ainda mais com esse meu cabelo curto'.

Ao voltar pra casa ouvi no rádio do carro 'Roxette' cantando, e aumentei o volume. Dizia:
Listen to your heaaaaaart! Traduzindo:
"Ouça seu coração
Enquanto ele está chamando por você
Ouça seu coração
Não há nada mais que você possa fazer
Eu não sei para onde você está indo
e não sei por quê,
Mas ouça seu coração
Antes que você diga-lhe adeus"

Pensei: Que bom que não sou a única que não sabe pra onde está indo - afinal ela canta pra várias pessoas.

E ai, ao chegar em casa, resolvi rever um filme lindo, chamado 'Histórias Cruzadas', que conta como as pessoas podem ser perversas e o quanto podem ser magníficas. Há várias empregadas negras no filme, que lutam pra não serem destruídas diariamente. Uma delas é a Constantine, ela é a babá de uma menina chamada Skeeter... e lá pelas tantas Constantine lhe dá um conselho:

"Todos os dias, quando acorda de manhã, quando não está embaixo da terra, você tem que tomar decisões. Tem que se perguntar: Vou acreditar em todas as coisas ruins que os tolos vão dizer sobre mim hoje? (…)"

Fui dormir chorando... e coloquei o devido peso em cada uma das coisas que ouvi.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Quais são as palavras que nunca são ditas?

Hoje quando acordei, tive uma surpresa. Fui ao banheiro escovar os dentes e quando olho, o Renato Russo tava preparando o café da manhã pra mim!! Era muito cedo.

Eu posso estar sozinha, mas eu sei muito bem aonde estou...

Aí eu pensei: Gente, será só imaginação? Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê.
Ele então me respondeu: Só apareço, por assim dizer... quando convém aparecer, ou quando quero.

Bom, pensei comigo, quem me dera ao menos uma vez acordar e ter o café pronto. Devo tá sonhando.

Engrenamos num papo maluco entre goles de café, um papo sobre coisas da vida, sobre como anda a política, a vida dele, a minha. Sobre Deus. Sobre quem somos nós. Percebi que a gente falava demais por não ter nada a dizer.

Eu, numa tentativa de me desvendar, falei sobre as minhas ideias e tentei entender como um só Deus ao mesmo tempo é três! Como?

Pra ele, isso é muito intuitivo. Minha pergunta soa com uma estranheza profunda.
Ele só soube me dizer: O mundo anda tão complicado...

Eu não sei, estou com medo, tive um pesadelo - respondi! Antes eu sonhava, agora já não durmo.
Tenho descoberto que sou um animal sentimental. E isso nem sempre é bem visto, Renato.
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe! Tava mais maluca que ele.

O papo era daqueles onde todo mundo sabe do que tá falando, mas tem dúvida sobre o que.
Do nada, ele me solta: E de pensar nisso tudo, eu, homem feito tive medo e não consegui dormir.

Perguntei: Você também tem sofrido de insônia? Anda sonhando nas poucas horas que dorme pelo menos? Eu não mais...

- Querida, os sonhos vêm... e os sonhos vão. O resto é imperfeito...

Pensei comigo: Do que será que a gente tá falando?

Vamos começar de novo: Falávamos de um por todos, todos por um!
Até bem pouco tempo atrás, poderíamos mudar o mundo, quem roubou nossa coragem?

Ele disse:
Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão...
Ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão...
Ser responsável, cristão convicto, cidadão modelo, burguês padrão...
Tudo isso passou a ser mais importante, querida.

Mas esse papo não era mesmo pra encontrar respostas. Era pra fazer perguntas. E as fiz.

Terminei meu café.
Resolvi então voltar um pouquinho mais pra cama:
- Tchau Renato, vou tentar reaver a noite em claro... pra tentar acreditar que o mundo é perfeito, que todas as pessoas são felizes...

Quando eu acordei de novo, ele já tinha ido embora. Isso era por volta das 25:10h.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ainda não tem nome

No meio de tantas manifestações, de tanta de gente indo as ruas para conquistar, eu observo.

Saindo do aeroporto entrei num táxi aqui no Rio de Janeiro. A primeira coisa que a minha boca resolveu perguntar foi: E aí, como andam as manifestações por aqui?
O taxista velhinho respondeu: Aahh, tá tendo aí... o povo tá reclamando por que o 'passe' aumentou vinte centavos.
Eu respondi: É? Mas acho que não é só por isso mais não...
Ele: Aah, aqui no Rio é sim... é só porque aumentou o passe.
Eu: Ahh, entendi...

Entendi que ele não anda lá prestando muita atenção no que tá acontecendo no entorno dele.
Mas também pensei em deixar pra lá: Porque deveria (ou poderia) ser eu a entrar numa discussão e mostrar outros aspectos da discussão? Ele era um casulo.

Nos outros dois táxis do dia seguinte a mesma coisa: discussões sobre si, não sobre o mundo.
Cada taxista entrou numa discussão solitária e fervorosa sobre impostos, verdades, eleições, corrupções, dinheiro para todos...e pasme, um deles até falou de mágica enquanto se referia sei lá a que. Nesse ponto eu me desconecto internamente e deixo fluir.

Hoje pensei muito sobre essa questão das manifestações. Tem gente contra. Tem gente a favor.
Tem gente em cima do muro. E tem a categoria em que me enquadro, mas não sei dar um nome.

Acho que sim, a manifestação é linda. Acho que não, não é por vinte centavos.
Acho que há policiais bons. Também há os ruins. Acho que há pessoas sensíveis tentando mostrar o seu amor pelo país. E acho que existem os que querem extravasar a raiva numa janela de vidro de um banco da avenida principal de São Paulo.

Como sempre, somos muitos. Como sempre, diferentes.
Não saio as ruas, talvez por falta de coragem no coração... mas meu pensamento está lá.
Observo e sei que a mudança é espiritual, não mais humana. Não é desse plano.

Por muito tempo as pessoas calaram. Uma hora iam falar.
E nas redes sociais vi muita gente dizer: Mas o que eles querem com tudo isso? Qual o objetivo real e imediato desses movimentos?

Eu sei qual é. Você também. Só que isso não tem um nome. E por que precisaria ter? Porque a gente precisa encaixar tudo em compartimentos, gavetas e caixinhas com puxadores enferrujados?

Isso é novo. Não tem nome ainda. E talvez não precise ter.

O que vemos por aí no governo antes disso tem nome e acredite:
não é bom, não ajuda, não cura, não preza pela justiça, não é honesto e nem sempre tem valor.

O que se quer agora, é aquilo que você desconhece. Porque não existiu antes, você nunca viu essa revolução. Como diria Clarice Lispector: Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.

E não é porque não tem nome, que não se pode gritar.
Se exima de colocar um nome e registrar em cartório. Não dá pra fazer isso com o espírito... e ele agora descobriu que é livre.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Sagrado coração

Nunca tive o sonho dourado de me vestir de branco, entrar numa igreja segurando um buquê que histericamente cinco meses antes do casamento, mandei produzir depois de inúmeras pesquisas.
Da mesma forma, o sonho que vem depois desse também nunca foi um sonho: ter filhos.

Quando eu dizia isso anos atrás, muita gente dizia: "é que ainda não bateu o instinto maternal... mas você vai ver, depois dos 30, você recebe um chamado."
Bom, estou nos 32, e até agora nada de chamados ou instintos maternos batendo a porta. Ou vai ver a campainha pifou.

Como não ligo pra idade, não tenho essa preocupação de 'estar quase nos 40'.
Não sei quando um filho virá, mas em mim, tenho muitas outras certezas a respeito de quando ele vier.

Outro dia almoçando em um restaurante, notei que uma mesa externa estava sendo ocupada por vários casais com seus filhos. Filhos já grandes, acho que de uns 8 anos pra cima.
Como de praxe, os casais sentaram-se de um lado, e os filhos do outro. Devia ter umas 10 crianças.

Para minha surpresa, todas elas sacaram da cartola, seus iPads com capas coloridas.
As meninas grudavam rosto com rosto e tiravam uma foto, que posso apostar, eu visualizaria no facebook 2 segundos depois, fosse eu amiga delas. Os meninos certamente jogavam algo, uma vez que um passava o iPad pro outro e fazia cara de alegria ou tristeza a cada 5 minutos. O engraçado era que o menino que passava o iPad pro colega, ficava extremamente entediado e ansioso até pegá-lo de volta. Deus nos livre de ter algum tempo livre, sem nenhum entretenimento!

O que senti naquela hora, é que aquelas crianças esqueceram o caminho.
Pensei: Minha vontade é chamar aquele grupinho e fazer uma roda de dança circular ou jogar escravos de jó com os iPads... todos nós sentados em roda, rindo, cantando e errando.

Elas esqueceram o caminho. E isso é triste.
Quanto aos pais, eles tem o próprio caminho pra buscar, e graças a alguns santos protetores existe iPad e outras tecnologias pra salvá-los da luta que é ter que divertir uma criança.

Aquelas crianças não saberiam brincar, se divertir e se distrair com coisas do mundo. Elas nunca aprenderam. E quando digo que elas esqueceram o caminho, é porque acho que ao nascer cada criança carrega consigo um conhecimento profundo e delicado do que é se divertir na terra.
É natural, vem no kit recém-nascido.

Daí, que a gente se encarrega de apresentar uma série de distrações que piscam, dançam, cantam e o mais importante, funcionam em looping - porque isso sim é a salvação dos pais.
Aperte o play, dê replay! Mal sabem elas que não dá pra dar replay em muitas outras coisas - as coisas que elas não estão vendo, enquanto se distraem com a desatenção dos adultos.

Isso deve ter a ver com o que ouvi hoje na TV sobre regras e limites para crianças. Uma mãe disse pra uma médica: "Minha filha é uma santa na escola, mas em casa ela me bate e me desrespeita."
Ao que a médica respondeu: "Quando a criança é muito pequena, cabe aos pais impor os limites e mostrar quem é a autoridade."

Na minha concepção, isso não vai dar certo. Não mesmo.
Duas palavras me chamaram a atenção: impor e autoridade.
Em nenhum relacionamento, e tenho certeza que nem entre pais e filhos, a imposição e a autoridade levam a caminhos de valor. E aí que conseguimos impor até nossa tecnologia pra quem ainda não sabe nem o nome de dez cores de cor.

Acho que se começa errado quando se acredita que é possível construir relações poderosas de amor, usando a ameaça e o medo. Quando se deseja impor um sistema pessoal de crenças em quem acabou de vir ao mundo. Meu sistema de crenças é valioso pra mim, mas não é o único, e de outros pontos de vista, como o do meu filho, pode estar bem errado.

Bom, e aí sempre tem gente pra dizer que se você não impuser regras ou se não 'conectá-lo' ao mundo (afinal hoje, tecnologia é muito importante!), ele vai crescer achando que pode fazer o que quiser ou vai ser um alienado.

Meu pensamento é de outra ordem. Vem de um lugar, onde acho que sim, ele poderá fazer o que quiser, se for guiado pelo coração e pela quase sempre ignorada, intuição.

Não sei quando terei um filho, mas sei que desejaria profundamente que ele conhecesse coisas mais interessantes, coisas que um brinquedo moderno nunca vai oferecer. E sei que quero que ele não se distraia com a minha desatenção, e sei que quero que ele saiba o caminho de volta, que ele saiba se encontrar e se 'conectar' sem precisar de wi-fi - usando apenas o sagrado coração que ele trouxe do céu. Quero que ele saiba que sempre que olhar pra mim, meu olhar vai estar pronto e nunca distraído.

Gostaria que ele descobrisse quanta coisa dá pra fazer com papéis, cola e canetinha colorida.
Que ele soubesse quanta diversão se consegue ter só usando o próprio corpo: estrelinhas, cambalhotas, saltos gigantes, danças engraçadas acompanhadas de sons criados por ele mesmo.

Não sei como é ser mãe, e isso são só desejos... Mas gostaria que ele soubesse que é um ser fantástico, brilhante e criativo... e que um iPad ou a minha autoridade não deveria nunca substituir o nosso olhar de amor um pro outro.

domingo, 19 de maio de 2013

O que cabe em você?

Estive no salão Circus Hair nesse final de semana com a minha mãe, que ia tesourar o cabelo. Já tinha ido lá duas semanas atrás, quando resolvi que assumiria o que sempre existiu em mim: o cabelo curto.

Lá é um lugar lindo, um lugar que adoro estar... porque além de muito colorido, é um canto que me tira da minha zona de conforto. É um lugar diferente, com pessoas diferentes, com um astral incrível e penteadeiras de todas as cores. Enfim, um achado.

Aí quando estava lá, pensei numa coisa:
Sabe quando você está num grupo de pessoas, em algum lugar pro qual foi convidado e você se sente absolutamente anormal? Você como eu, já deve ter passado por essa situação.

É péssimo, você sente que seu corpo está lá, mas que sua alma deve estar em algum lugar bem longe dali onde certamente você se sente mais acolhido e confortável.
Quando você se sente anormal numa festa, numa reunião ou num happy hour, em geral você acha que os outros estão errados, que eles são malucos, que não têm nada a ver com você e que eles não tão te entendendo. Eles são tão normais. Não é?

Nesses momentos você abre a boca, quando deveria abrir a mente. Fecha os ouvidos, quando deveria fechar a boca. Não abre a guarda porque fechou o coração.

É uma sensação de não pertencer. Uma sensação que sinto muitas vezes, em vários lugares diferentes, as vezes com pessoas que amo incondicionalmente. Já senti isso até sozinha num mercado.
Minha intuição me diz que isso tem a ver com você não estar preparado praquilo naquele momento. O universo simplesmente errou no desenho do espaço-tempo nessa hora.

Aí pensei que pior que se sentir anormal em um grupo, é sentir normal. Por que aí, você é o maluco que não tá entendendo aquele momento. E lá no Circus Hair eu tive uma sensação assim. Me senti normal. Porque lá as pessoas são lindas e tão diferentes entre si que é um desatino eu querer ser igual ao que tem lá fora. Elas não são diferentes do tipo que me assustam, mas diferentes do tipo que me deixam feliz, que me fazem pensar que nesse mundo cada um pode fazer o quiser.

E não é o cabelo moicano, a saia curta com meia calça estampada e bota, ou a maquiagem Winehouse que me faz pensar que lá todo mundo é diferente. Eu poderia usar tudo isso e continuar sendo igual. Igual ao que eu sou, igual ao que a sociedade considera "aceitável" (e que me dá vontade de vomitar) ou igual a maioria jeans e all star.

O que me faz pensar que lá todo mundo é diferente, é a impressão que eu tenho que todos eles escolheram suas vidas. Só gente com um olhar especial e amoroso pra vida, sabe intuitivamente que a cor da roupa, do cabelo ou do chapéu não importa, e que não é importante pintar dentro do contorno.
É gente livre, que recebeu a alforria muito antes de escolher nascer (porque sim, eles escolheram nascer). São tão livres, que não gastam tempo com o julgamento. Diferente de mim e talvez de você.

Eu luto diariamente pra ser mais livre, autêntica, honesta comigo e com você.
Como diria Lulu Santos: "Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera... com habilidade, pra dizer mais sim do que não."

Lá no Circus essa era já chegou. Gente fina, finíssima. Elegante, sincera e fiel ao que se propuseram a fazer na terra antes de desembarcarem aqui com suas malas diferentes. Suas malas cheias de mágica.
O tipo de gente que deveria ser onipresente, pra mostrar que amor, simpatia, gentileza, liberdade e um olhar especial, você trás de casa (daquela... espiritual).

Eu me senti normal, mas também feliz em ter certeza que isso... isso não é normal.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Preciso ser mais gata

Ai ai... eu sou neurótica com muitas coisas. Uma das coisas que tem me intrigado ultimamente é que talvez a gente devesse se parecer mais com os animais.

Esses dias tava eu aqui trabalhando, quando escuto um 'tsc tsc tsc'. Já surtei achando que tinha pomba no telhado e já fiquei em pânico só de imaginar esse barulhinho a noite, na hora de dormir.

Desconsiderei o barulhinho e continuei trabalhando. Daqui a pouco, lá vem ele de novo.
Eu inconformada pensei: Né possível... tô ouvindo coisas!

De repente vejo um movimento no chão e quando olho apavorada (quem mais estaria ali comigo??) eis que vejo o Richard Parker, o gato da vizinha.
Na verdade nem sei o nome dele, eu e o Rô o chamamos de Richard Parker porque vimos o filme 'As aventuras de Pi', e dali pra frente demos esse nome pra ele. Tá certo que ele é um felino um pouquinho menor que o do filme... mas e daí?

Enfim, o Richard Parker parou, olhou pra minha cara e ficamos nós dois imóveis.
Um gelo subiu pela minha espinha sei lá porque. Na verdade acho que por medo de estar com alguém que tinha as unhas maiores que as minhas. Numa briga, ele ganharia.

Em questão de meio segundo me levantei e falei: Richard Parker o que você tá fazendo aqui?
Ele com medo, saiu correndo escadaria abaixo e quando chegou na parte debaixo da casa, comigo correndo atrás dele, se viu encurralado. Não tinha uma janela ou porta aberta!

O coitado correu, bateu no vidro da janela, correu, bateu na porta da cozinha, correu, bateu no sofá, olhou pra minha cara, me xingou de vadia, correu e se escondeu bem escondidinho atrás do sofá.

Um medo enorme. Meu e dele, nosso. O coração na mão. O meu. O dele devia estar na pata.

Pensei: Senhor, o que eu faço agora? Ele vai me matar, me rasgar todinha e chamar os amigos (o gato preto inclusive, porque tô com azar) pra me jantar!

Fui morrendo de medo até a porta da sala, abri... e ele nada. Só me olhou por trás do sofá com cara de poucos felinos. Mexi no sofá e ele então saiu, mas pela porta da cozinha, que estava muito mais longe, mas com certeza devia ser um jeito dele me dizer: ei, eu saio por onde eu quiser sua humana!

Fiquei pensando depois que na verdade, ele devia estar com mais medo de mim que eu dele. Devia, porque acho que a coisa tava muito ao contrário.

Pudera, num mundo onde a gente maltrata animais, acaba com a natureza, joga pelo ralo toda água que temos e tá andando pro sol nascendo e se pondo todo dia... é claro que eu ia ficar com muito medo dele. Mãe natureza? Quem é essa?

Já dizia a Cristina Cairo, quem tem gato em casa é muito mais sexy e paciente.
Talvez eu precise de um. Gato anda devagar, uma pata na frente da outra. Se você andar rápido tendo um gato em casa, uma hora você dá com o dente da frente na quina da mesinha da sala. Ou com o olho.

Gato é sexy porque tem tempo. Espia, encara, desfila, passeia, escala paredes, pisca devagar, boceja, senta e levanta com delicadeza, passa a pata na cara, balança o rabo pra lá... pra cá, dorme e corre como se essa fosse a única motivação da sua vida. Ele é felino.

Eu? Não, não. Não pisco, não acordo, não desfilo, não encaro, não me balanço. Eu sou ferina.

Eu devia aprender mais com o Richard Parker. Ele é quem sabe das coisas. Ele usa o tempo a favor e nem fica neurastênico atrás do relógio do iPhone como eu.

Da próxima vez vou bater um papo bem franco com ele: Vou pedir pra ele me ensinar a ser mais gata.

P.S.: Isso tudo me fez lembrar a música do comercial do Windows 8: El hueco (Juliana R)
Diz assim:

Si no me escuchás
No me comprendes
Si no me comprendés
No me conoces
Si no me conocés no valgo nada
Para ti

[Se não me escutas
Não me compreendes
Se não me compreendes
Não me conheces
Se não me conheces não valho nada
Para ti]
 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Uma alma encorpada


Vasculhando o 9gag, me deparei com essa imagem:

"Você não tem uma alma
Você é uma alma
Você tem um corpo"

Me fez lembrar uma frase que li certo dia, acredito eu, atribuída a Teilhard de Chardin:
"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual.
Somos seres espirituais passando por uma experiência humana."

É como uma verdade que nasci sabendo. Parece que me falaram isso antes da minha viagem pra cá.

É difícil pensar ao contrário, enxergar dois lados. É difícil imaginar algo que só tem nome no dicionário mas não na experiência - alma - algo que não conseguimos ver ou tocar. É muito difícil ter fé no imponderável.

Eu não sou o tipo de pessoa que 'só acredita vendo', porque acho que na maioria das vezes você tem que acreditar pra ver e não o contrário.

Reparo muito nas pessoas. Não na roupa que elas usam ou no jeito como elas falam com ou sem sotaque, mas na forma como elas evoluem, na forma como elas se movem por esse universo.

Tempos atrás, botei uma pulseirinha em meu braço esquerdo, pra me lembrar constantemente que 'cada um trava suas próprias batalhas'. Vez ou outra esqueço disso, quando o ser irritante e crítico que mora em mim resolve abrir a boca, fechar a mente e dizer na cara dura coisas que desconheço sobre o outro. Preciso aumentar a pulseira.

A verdade é que somos almas transparentes e brilhantes vagando por aí em busca de inspiração pra não se tornar só corpo, pra não ter apenas experiências humanas, mesmo que esse seja o objetivo.

As vezes eu tenho certeza que somos bonequinhos recortados em papel, com dois lados, um de cada cor, unidos pela cola de Deus. É por isso que nunca conseguimos ver os nossos dois lados ao mesmo tempo: o lado da alma e o da experiência humana. Os dois lados estão o tempo todo presente, mas não temos o benefício da dupla visão.

E aí você usa a câmera do lado que mais frequentar. Um lado é a sua casa, pra onde você sempre volta. O outro é o seu mirante, de onde você olha de vez em quando pra ver como vai a paisagem que andam construindo.

Um lado te salva e o outro te tira a chance de perdão. Do seu perdão.

sábado, 4 de maio de 2013

Declare suas intenções

Assisti o novo filme do Tom Cruise chamado Oblivion. Poderia se chamar 'Ó-blivio', porque o tanto de coisa óbvia que se daria na sequência era bastante previsível.

Bom no final do filme, ele em sua nave interestelar precisava de uma autorização para entrar na nave mãe, que ainda não o 'amava de paixão'. E estava lá o Tom Cruise falando, no espaço, com a nave mãe. Lá pelas tantas no diálogo a nave mãe diz: "declare suas intenções."

Ó que coisa. Declare suas intenções.
Tudo bem que ele mentiu e entrou na nave mãe mesmo assim, porque ela achou que ele dizia a verdade. Mas já pensou se em todas as situações pudéssemos seguir esse protocolo: Declare suas intenções - e aí a outra pessoa falasse a que veio?

Já pensou se não existisse mais nenhum jogo entre pessoas? Se a minha real intenção pudesse ser detectada pelo outro logo de cara?

Acho que seria muito verdadeiro e sincero, imaginando claro, que todos fossem objetivos e fiéis aos seus reais motivos.

Ao conhecer alguém novo, eu que vivo me atirando pra cima das pessoas, diria: Minha intenção com você é dividir minhas risadas, minhas músicas novas e boas, um rock intrigante, meu sorvete com brigadeiro, os vídeos e pesquisas que coleciono no favoritos, o sol e muitos passinhos, pra lá e pra cá.

O outro poderia aceitar ou não, mas já saberia qual é a minha verdade. O que me move e o que poderia nos co-mover.

Isso pouparia um tempo enorme. Já pensou?
Pouparia o tempo de ter que se explicar. Não estou falando de poupar o tempo das descobertas das incríveis coisas que o ser humano é capaz de fazer e que te chocaria de felicidade. Esse tempo pode ser vivido.

Estou falando de poupar o tempo dos jogos. Aquele tempo onde eu preciso mostrar mais, conquistar mais, ter mais, brilhar mais que você. Aquele tempo onde você precisa apresentar todo o seu currículo cheio de certificações e benfeitorias pra que eu te valide.

Pouparia o tempo de venda, ampliaria o tempo da feirinha do rolo. Todo mundo trocando.

Pouparia aquele tempo enorme onde as expectativas podem ser muito diferentes, e depois de cinco ou seis conversas casuais, cada um segue pro seu lado - mas isso também é um aprendizado, claro - aprendemos como sermos melhores nesse jogo das aparências.

Declarar as intenções logo no início nos pouparia de vangloriar o passado em prol do aqui e agora. Nos pouparia da armadilha que montamos todos os dias, quando cruzamos com o outro e temos a absoluta certeza de que ele precisa saber do meu melhor.

Ele precisa saber do seu melhor, sem dúvida. Mas o seu melhor não está no passado brilhante que você viveu. Está no presente, no que você está construindo junto com ele no exato momento do encontro.

Declare suas intenções. Não acredito que exista qualquer encontro sem que se tenham intenções. Não acredito no 'acabei de conhecer aquela pessoa, ela está sempre aqui... me parece legal'.

Acredito que sempre dá pra botar a intenção em tudo. Em cada conversa, em cada encontro, em cada gargalhada dividida. Me parece mais colorido e respeitoso colocar as intenções, mesmo que não declaradas, na vivência com o outro.

As pessoas percebem quando é falso, e percebem quando você é real.

Se declarássemos as intenções poderíamos evitar os 'não tive a intenção'. E eu acredito quando ouço isso, por que há quem não tenha intenção mesmo. Nenhuma inclusive. Mente neutra.
Mas pra nos salvar de nós mesmos, dos nossos jogos, há também quem tenha intenções, propósitos e ideias tão brilhantes, que não precisam ser declaradas... afinal sabemos quando é real.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Contando as bênçãos

Não conte seus planos pras pessoas, que aí você vai ver como as coisas dão certo... ou...
Quanto menos souberem dos seus projetos, mais você tem sucesso... ou
Não conte nada sobre você, a inveja mata...

Você escuta isso em todo canto?
Eu escuto em vários lugares: na fila do mercadinho, numa rodinha grande de pessoas, na pizzaria, no restaurante.

Tenho que dizer que discordo plenamente. Começando pela pergunta que não quer "falar":
Que tipo de pessoa é essa pra quem você anda contando (ou contaria) a sua vida?

Definitivamente você não deve estar cercado de pessoas certas.
Concordo que você não precisa sair falando de tudo que planeja ou projeta na sua vida para o padeiro ou recepcionista da academia. Fato. Mas essas pessoas também na maioria das vezes não são seus amigos.

Desconfio completamente de pessoas que tem algum convívio com você e escondem que farão uma viagem prali pros Estados Unidos nas próximas férias. Em geral elas também escondem que não gostam de trabalhar com você, fingem adorar o chefe ou cliente e trazem da viagem que fizeram aos EUA alguns chocolates... que foram comprados aos montes, não pra você, mas pra quem cruzasse a frente dela na primeira semana em São Paulo.

Vamos a lógica: se você está cercado de pessoas que deseja perto... porque não contar seus planos de vida? Acha mesmo que os SEUS sonhos não darão certo porque você contou a elas sobre eles? Salve Jorge eu não queria ter as suas pessoas por perto. Será que o Pai Francisquinho de Oxum pode leva-las de volta em 7 dias?

Agora se você está cercado de pessoas que NÃO deseja perto, aí o problema é outro.
O que acontece não é que se você conta seus sonhos ou planos a elas a coisa não acontece. A questão é outra, é que a sua energia está em outro lugar nessa hora: nessas pessoas. E aí não tem plano ou sonho pintado de rosa choque que não desbote.

Nesses tempos, mais que nunca, tenho dado meu voto a quem sabe compartilhar. A quem anda com os braços abertos, porque sabe ou intuitivamente imagina que inveja não existe.

Pra existir um invejoso você tem que dar esse poder a alguém. Você dá?
O mundo hoje é compartilhado. Não se guarda informações como antigamente. Aliás, nem se guarda, se publica.

Se você publica sua vida na rede social, porque não compartilha seus desejos, sonhos e criatividade com alguém que tá ali... pertinho, cineticamente te estendendo a mão ou as sinapses?

É simples. Tem gente que gosta mais e tem gente que gosta menos de compartilhar as coisas que vê pelo mundo ou que imagina pra vida - daí a acreditar que o que está fora de você pode afetar os seus resultados, sinto lhe dizer: você deu o poder pra outro.

É claro que acredito em pessoas e ambientes negativos. E quando me dou conta disso, me afasto de lá rapidinho, de modo que sempre vou poder contar o que sonho, desejo e mentalmente crio pra pessoas de minha inteira confiança.

Clarice diria: "Uns cosem pra fora, eu coso pra dentro."
Licença Clarice, hoje eu inverto: Uns cosem pra dentro, eu coso pra fora.

O meu dentro é tão grande que não cabe mais em mim. Já bordei demais dentro.
Agora tenho vontade de coser pra fora, e todo mundo vai saber, vai ver e vai ajudar a moldar.

Porque ainda acredito nas pessoas que quero perto. Porque não existe inveja. Porque o que você planeja depende de você e não do outro. Tragam suas peças, tenho um patchwork enorme pra bordar, em conjunto.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

32

Tem uma coisa que particularmente me incomoda, e nesses tempos, mais que nunca.

É o fato de perguntarem a minha idade e depois da minha pesarosa resposta, me dizerem uma das frases abaixo:
- Ahh, mas você ainda é novinha...
- Iiih é um bebê ainda.
- Ihh ainda tem tempo...
- Ahhh ainda tá no começo.

A pergunta que não quer calar: porque?

Isso me irrita tanto, que estou quase começando a mentir minha idade... pra mais!!! Prazer, Fernanda, 45 anos.

Já respondo sabendo que vou ouvir alguma das pérolas acima, e que obviamente vou perder toda e qualquer credibilidade com a pessoa que me questionou. E pra isso acontecer basta que o inquisidor seja 1 dia mais velho que eu: Ahhh ganhei, nasci no dia 27 de fevereiro de 81 - diz feliz o detetive apontando uma luz forte na minha cara.

Sempre tive cara de criança. Nunca botaram fé em mim - não tô falando da minha capacidade profissional ou inteligência - tô falando é de credibilidade social. Nunca tive.

Quando alguém que não me conhece olha pra mim, deve ver algo como:
Uma criança de 6 anos, que ainda se diverte com canetinhas coloridas, bolsinha emborrachada rosa e meia calça com desenhinhos. Tem as unhas roídas e o cabelo desgranhado. Também devem ver na minha cara que ainda tenho dentes de leite, uma janelinha e vários arranhões nas canelas.

Chego dançando em quase todos os lugares, e desde sempre gente extrovertida e desinibida não parece responsável e profissional. Se você me leva a sério, é porque é tão maluco quanto eu - nem eu me levo!

Tenho concordado mais que nunca com o Pequeno Príncipe:

As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: “Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?”
Mas perguntam: “Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?” Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado…” elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: “Vi uma casa de seiscentos contos”. Então elas exclamam: “Que beleza!”

Esse sabe das coisas, honra a coroa que deveria usar.
Não sei se isso acontece com você, mas detesto quando perguntam a minha idade. A maioria acha que eu detesto porque sou mulher e estou envelhecendo (que lógica!), e até eu explicar...aaaahhh:
"Não amor, eu não quero falar a minha idade porque você vai desdenhar de mim... nem que seja da boca pra dentro!"

Se você observar com cuidado, vai ver que a gente pauta nossas relações, inclusive a medida do nosso poder, de acordo com a idade que o outro tem ou de acordo com quanto ele recebe no holerite todo mês. Bananas por favor, viramos macacos!

Como não gosto que me perguntem a idade, não faço isso com ninguém. Prefiro acreditar que se a pessoa for mais nova ou mais velha que eu, ela veio porque era a única coisa que poderia ter acontecido. É sempre a pessoa certa.

Aos 21 ou 22 conheci um cara que tinha 35 anos. Alguém arrisca dizer o que me disseram na época?
Pra resumir, eu tava sendo "enganada e aproveitada por ele, que lógico, aos 35 não poderia querer nada sério!"
O que diriam se eu me casasse com ele naquela época? Enfim, história pra outro post...
Mas o que diriam da nossa relação quando eu tivesse 72 e ele 85 anos?

Provavelmente nada, porque a essa altura e nessa idade, ninguém mais se importa em subtrair e sim em somar.

Isso me leva a crer que a gente vai aprendendo a deixar de ser besta (que teoria fantástica!).
Quase todos que conheço são péssimos em matemática, mas quando saímos do colégio, parece que começamos a participar de um jogo com a humanidade: procure pelos números e ganhe pontos!

A gente vai deixando isso pra trás porque no fim os números não importam. Na verdade não importam nem no começo, mas no começo somos tolos demais pra admitir que o que vale é o que fulano é.

Eu e você somos mais que um número, e se eu puder defini-lo pela sua data de nascimento, pelo seu RG, verdadeiramente eu não mereço tê-lo conhecido.

Que não perguntem a minha idade e não me revelem as suas, mas me contem sobre suas músicas prediletas. Que não nos avaliem pelo ano em que fomos paridos, mas pelas nossas risadas, histórias e presença.

domingo, 14 de abril de 2013

Canção de amor

Antes de juntar o meu all star lilás com o sapato social preto do Rô, eu tinha muitas dúvidas. Duvidava se o amor seria o mesmo depois de algum tempo, sobre o massacrante teto da rotina... um teto físico, real.

Quando isso aconteceu, todo mundo pensou: Aleluia! Até que enfim... pensei que iam namorar por mais 9 anos!

Mas eu tinha medo. E ele também. Falávamos pouco sobre isso... talvez numa tentativa de não tornar o medo algo real.



E tudo aconteceu sem pressa, formalidades, planejamento ou pedido oficial de casamento.
Casa comigo? Não, tô vendo 'todo mundo odeia o Cris'.

Acho que no nosso caso, pedidos oficiais de casamento não cairiam nada bem.
Não tem a ver com quem somos, com quem fomos ou com quem seremos.

Seria uma piada. Seria excrucitante, como diria minha adorada Clarice Lispector.

Não sei nem imaginar uma cena pra isso. Mas poderia ser algo como, um altar depois de um tapete colorido, talvez parecido com o da parada gay, porque eu gosto é de cor minha gente... uma música de palhaço, e todo mundo dizendo junto, ao mesmo tempo, seus votos de felicidade pra gente, da forma mais informal possível.

Eu entraria vestida de princesa Xena ou de Ariel (com peruca vermelha e tudo).
E ele... bom, pelo que conheço (e amo) estaria vestido de calça social e camisa branca, achando tudo aquilo uma mistura de patético com 'Fernanda'. Acho que riríamos muito.

Daí, que nada disso aconteceu e estamos aqui, num lugar naturalmente 'acontecido'.

Meu medo não passou. E provavelmente o dele também não.
Pensei numa coisa bonita hoje cedo:

Porque a gente tem medo de algo que outros nunca irão conhecer?
Isso além de assustar deveria ser especial! Só nós dois conhecemos os detalhes mais especiais um do outro.

Ninguém sabe mais que ele hoje em dia, como eu fico quando tô com sono ou fome.
Só eu sei e já não me incomodo tanto com o fato de ele gostar de beber café frio.

E as caras que antecipam um ataque histérico de um ou de outro? Só nós conhecemos.

E saber qual é exatamente o sabor do brigadeiro perfeito pra comprar e me dar de presente?
Não como qualquer brigadeiro, não gosto da maioria, e ele sempre come os restos depois da minha primeira mordida, quando me decepciono com o gosto.

Com quem mais eu poderia fazer um acordo silencioso de 'você lava a louça e eu a roupa'. Tá na cara que não dá pra manchar um copo, mas uma camisa sem dúvida... então deixa comigo (que eu mesma mancho, haaaa!).

E sobre a pressa de chegar, de sair, de voltar ou de ficar? Nem todo mundo conhece.

E dá-lhe Renato Russo...

Ele pra mim:
Gosto de ver você dormir
Que nem criança com a boca aberta

Ele pra ele:
Agora que temos nossa casa
é a chave que sempre esqueço

E eu, canto todas as partes, porque nasci pra cantar!

Hoje fiquei pensando que o que eu mais gosto atualmente, é o fato de não ter que explicar quem eu sou. Eu sou um dicionário já lido ou um manual já estudado nas horas de pane.

Muitas vezes, com pessoas que acabo de conhecer, o que acho mais trabalhoso é ter que explicar quem eu sou. Não tô falando de explicar do que gosto, o que faço, que músicas ouço. Isso não define quem eu sou. Tô falando das caras, bocas, silêncios, barulhos, cantorias, dancinhas, imitações, ausências e presenças - isso me define.

E pra isso é preciso tempo. Então, voltando ao começo, talvez tenhamos tido medo por termos tido muito tempo... são 9 anos minha gente! Dá pra dizer então, que eu tenho mais medo daquilo que conheço, do que do que desconheço - é bem a minha cara! E acho que a dele também.

A gente sabe quem é. E por isso todo o medo. Que bonito.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Um São Sebastião de massinha

Lembra quando você fazia um desenho bem bonito na escola e dava pra alguém que amava? Bem bonito é forma de dizer, você pintava a vaca de verde, a nuvem de laranja e fora do contorno (e não entendo porque não pode). 

Lembra de quando você fazia um boneco ou um cachorro de massinha, com as cores todas misturadas de preferência, deixava secar e dava pra sua vó?

Lembra de quando você fazia um cartão lindo (de viver, como diria a Hebe) pro dias das mães, cheio de brocal, lantejoulas, gliter e palitinhos de sorvetes que você guardou durante um mês porque a professora pediu? Aí no dia das mães, você com brilho até o rim, ia cheio de entusiasmo entregar o cartão: mãaaae, eu que fiz!

Se lembra disso tudo, deve lembrar de quando ia brincar na rua depois da escola com todo mundo que aparecia e até com os amigos imaginários. Você se esborrachava, se ralava inteiro e voltava cheio de hematoma, mas não se importava se era porque alguém sem querer te empurrou de cara pro muro durante o jogo de queimada. Aposto também que você não sabe hoje, e talvez nem na hora, quais eram as cores ou a idade de cada um. Ou se o cabeludo era na verdade uma menina, e se a menina de cabeça raspada era na verdade um menino. Piolho? Raspa!

Aaah, tem outra coisa. Se lembra quando no colégio você podia levar o seu brinquedo predileto em um determinado dia da semana? Nunca lembro o que levei, mas sei que levei. Ao chegar o tão esperado dia dos brinquedos, você não se importava em trocar com seus amigos. Seu brinquedo estava em boas (e pequenas) mãos.

Lembra também da hora do soninho no colégio? Com isso, você e eu aprendemos a confiar. A confiar que estaríamos protegidos ao fecharmos os olhos num lugar que não era a nossa casa e que certamente tinha mais de dois adultos. Aprendemos a confiar e a esperar que quando acordássemos, alguém amoroso teria preparado um lanchinho gostoso.

Lembra quando você aprendeu a andar de bicicleta? Alguém te segurou até você receber um recadinho de Deus dizendo que você sem dúvida, já podia tirar as rodinhas. Nessa hora, você só queria que alguém que você confiasse e que não mentisse pra você (falando que está segurando a garupa sem estar) soltasse muito lentamente a bicicleta, de preferência numa ladeira, pra você também já se gabar de ter aprendido "sozinho" a andar de "bike".

Existem muitos outros aprendizados que levaremos delicadamente conosco até podermos repassar.
No entanto, em todos esses, existe uma coisa em comum, além do fato de você na época ser criança: você estava aprendendo a aprender.

E tem me parecido que agora é a minha hora de voltar a aprender como aprender. E talvez seja a sua hora também.

Não sei, mais deve ter sido ontem que as coisas mudaram e não percebi. Ontem não tínhamos preconceito. Hoje temos um monte. Aprendendo a aprender: isso não nasceu e nem veio de você.

Você foi pra escola, pra casa sua e da vó e aprendeu que tudo bem pintar desenhos de cor diferente das que vemos - se aquilo é só papel e não existe mesmo, é uma boa ocasião pra acessar seus desejos. Aprendeu que misturar é legal, e que o boneco de massinha vai entender bem o fato de'le ter a cara meio marrom com pintas azuis e as pernas vermelhas com laranja.

Aprendeu também que "mais ainda é pouco", e que você poderia ter colocado mais gliter, mais brocal, mais lantejoulhas e mais palitos no cartão de dia das mães. Misturar é mesmo muito inteligente.

Aprendeu que na escola com seus brinquedos ou na rua com os amigos reais ou imaginários, o importante é compartilhar, e não segregar, separar, dividir, questionar ou classificar.

Aprendeu a confiar no outro, seja na hora do soninho ou ao aprender (sozinho) a andar de bicicleta. Quem estava lá? Não importa. Certamente alguém que te amava.

Passamos anos na infância. Anos naqueles anos. Algumas pessoas que conheço estão neles até hoje.
E porque será que não aprendemos ou que esquecemos que as escolhas amorosas do outro são tão genuínas e legítimas hoje quanto as suas quando criança?
Porque você escolhia misturar as massinhas vermelha e marrom? Tecnicamente não combina.

Então o que penso agora e acho que sempre pensei, é que todo mundo que passou por esses aprendizados e escolhas, pode "aprender a aprender a entender" que menina com menina e menino com menino dá a mesma soma que menina com menino.

Acho que gosto de São Paulo, gosto de São João, gosto de São Francisco e de São Sebastião. E eu gosto de meninos e meninas. Viva "a" legião urbana que se faz feliz. Viva a Daniela Mercury que trocou alianças.

Se vira com isso: você aprendeu lá atrás, que misturar, fugir do contorno, usar mais recursos coloridos é fantástico! Porque quer esquecer disso?

Eu nessa estrada pequenininha me sinto com o pulmão cheio de ar poderoso e potente, sempre que escuto que alguém teve a coragem (construída ou emprestada) ou a delicadeza de compartilhar com o mundo que quem segura a sua mão na maior parte do tempo é São Paulo, São João, São Francisco, São Sebastião, é menino ou menina. Tanto faz. Porque amor... tanto faz, desde que venha e vá, desde que circule.



quarta-feira, 20 de março de 2013

Quando se erra sem querer

Zapeando pela net me deparei com a seguinte reportagem hoje:

"Perucas de palha de aço geram polêmica" - fui ler a reportagem e lá tava escrito que um artista resolveu fazer uma peruca de palha de aço pra um desfile do SPFW, e que algumas entidades que lutam pelos direitos dos negros estavam acusando o artista e o estilista de racismo.

O artista escreveu se justificando:
"A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, não importando o fato de serem crespos... Foi também uma forma de subverter um preconceito enraizado na cultura brasileira. Por que o negro tem de alisar seus fios? Eles são lindos!"

Também acho! Acho lindo, acho todo mundo lindo, da mesma forma que todo mundo pode me achar insuportavelmente horrorosa.

Pra começar, cada um sente o que quiser e entende como preferir cada acontecimento do mundo. Se alguém de fato se sentiu lesado ou discriminado, ok, não dá pra negar isso, é legítimo e aceitável.

Sou absolutamente contra o racismo ou qualquer outra discriminação, porque SERES humanos são perfeitos e achar que o outro está em algum nível inferior ao seu é no mínimo uma ignorância.

Mas quando li isso, fiz um exercício de pensar em um mundo onde não houvesse racismo, preconceito ou discriminação. Mas também não houvessem 'os ofendidos'. Onde todos nós, pudéssemos nos colocar num lugar de sabedoria e criatividade pra lidar com situações ácidas. Onde pudéssemos ser a nossa melhor versão, o ser potente e gigante que nascemos pra ser... nos "apoderando do poder" a que temos direito desde que carimbamos nosso pezinho no documento do hospital. Ou até antes.

Atualmente parece que tudo é discriminação. E nem sempre me parece que é.
Aí, pode muita gente dizer que 'Fernanda, você não se sentiu discriminada porque não é baixinha, porque não é musculosa, porque não é verde ou cor de rosa'. Pode ser.

Mas no mundo novo, vamos começar nos aceitando. E aceitar não significa que fecharemos os olhos para as milhares de injustiças, maldades e depreciações que existem por aí. Mas apenas ter fé no caminho da vida e saber que vai ser uma delícia conviver com quem realmente somos. E somos lindos e irretocáveis, loiros, morenos, ruivos, negros ou branquelos como eu.

Acho que a discriminação muitas vezes está na nossa cabeça. Li outro dia algo que dizia mais ou menos assim: "Não existe bem ou mal, existem interpretações dos fatos." E não é que é faz sentido?

Talvez algumas pessoas sentiram-se discriminadas com o acontecimento das perucas. Com razão.
E outros provalvemente não ligaram a mínima. Com razão também. O bom é que todo mundo pode estar certo, como pode estar errado.

Agora de uma coisa eu sei... há eventos verdadeiramente grotescos acontecendo por aí. Racismo onde a gente nem imagina e vê, porque nem todos os insultos contra os humanos são publicados na internet ou no jornal. Infelizmente. E eu choro por isso toda semana. Acredite.

Acho que vale sempre seguirmos em frente, e entendermos que o outro também pode estar pensando: "Caramba, não era isso que eu queria dizer ou mostrar. Foi sem querer." Se foi, agora ninguém acredita.

Nessa reportagem, me coloquei por um minuto no lugar do artista das perucas, e fiquei pensando que por qualquer desvio da vida, poderia ter sido eu a criar aquilo (usando a empatia!), e de verdade eu não teria desejado ofender ninguém, nenhuma raça, grupo ou pessoa. Simplesmente porque seria impensável pra ser proposital. Talvez eu no lugar dele, só estivesse usando a criativade para dar outro uso a palha de aço que não a tradicional... como quando a colocamos nas antenas do telhado.

Mas é claro... mais uma vez, essa é só uma percepção pessoal, carregada da minha forma de ver.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Bate papo com Van Gogh

Nas minhas observações do mundo, tenho visto muita coisa bacana.
Gente de todo o tipo fazendo coisa que você não iria acreditar.

Gente fazendo de tudo, largando a publicidade pra vender biscoitos, gente trocando os escritórios por tecidinhos lindos, coloridos e bem costurados. Gente maluca que larga tudo e vai cuidar de elefante na África (eu quero!!). Também tem gente preocupada com a carreira, com o salário, com o futuro, com a aposentadoria, com o próximo cargo. E tem os que estão preocupados com o que ter 'de comer'.

Por todo lado, só se vê desafio. Cada um com seu. Alguns com o seu e com o dos outros.

É bonito ver a busca pessoal de cada um. Algumas buscas você vai olhar de longe e vai pensar: eu não iria por aí... não mesmo. Pra outras você vai olhar e vai dizer: eu queria já estar lá.

Acho que a melhor coisa de BUSCAR é ter no coração a certeza de que você foi feito pra'quilo... e não pra isso, seja lá o que for o 'isso'. Pra quem já achou... ta-daaaa... parabéns, mas se ainda não se enfiou em outra busca, saiba, eu tenho medo de você.

E por aí se vê de tudo. Vejo gente que só gosta de um tipo de roupa. É apaixonado por uma única cor (e se a pessoa estiver nos melhores dias, usa até o degradê da cor predileta!). Gosta de um só tipo de música e pra qualquer outra torce o nariz. Gosta de um lugar só no mundo (eu vivo em Bertioga, além de amar, vivo sem planejamento constante!). Só come uma comida (sim, é uma critíca pra mim também, que só vivo no macarrão com molho ao sugo), só bebe uma cerveja específica, só compra em um supermercado. Também só usa um perfume, há 15 anos. Só usa saia godê, só pinta a unha de nude e por aí vai.

Sim, somos nós! Já dizia a música da novela "Olhando para o céu eu sou capaz de ver..." ...é nada! É capaz nada. Salve Jorge!

Quem dera pudéssemos gostar de tudo. Não disse de todos, porque pelo menos eu, embora tente muito, ainda me atraco num nível inconsciente com um ou com outro.

Seria tão mais bonito. No nível coisas tenho me saído bem:
Não sabia que cor escolher pras coisas da casa... escolhi todas.
Não sei que música ouvir, ouço todas: jazz, rock, pop, samba, Naldo e pearl jam (essas últimas são categorias exclusivas).
Também não tenho um estilo de vestir, uso moleton, social, um jeans básico e vestidinhos de menina. E se eu tiver muito louca, sou capaz de botar casaco de moleton, uma saia xadrez e um salto alto num pé e um all star no outro.
Também pinto as unhas de azul, cinza, vermelho, lilás e rosa chiclete.

E aí li uma coisa linda de Van Gogh: O melhor meio pra amar a vida, é amar muitas coisas.

É isso aí... quando você tem mais opções no cardápio, você pode ir de leste a oeste, de norte a sul, a onda é a dança da galinha azul. Então, bata as asas e dê uma ciscadinha.
O ser humano feliz é o que tem mais opções. Viva a BUSCA infinita por mais alternativas.

Num mundo onde tanta coisa fantástica tem acontecido, só saber se vestir de moleton rosa, tomar suco de soja e ouvir Caetano é muito estreito, é pouco elástico. Me lembra os smurfs: sempre azuis, sempre com gorro branco, sempre bravos ou sempre bonzinhos... e eu duvido que alguém consiga ser a mesma coisa por fora todo o tempo... não somos por dentro. E seria um desperdício.

A partir desse mês vou estudar astrologia e uma nova receita de pão. SalveM o Jorge.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Varinha mágica sem bateria

Notei que em meus textos, tenho escrito muito sobre como as coisas devem ser, na minha percepção é claro. Hoje quero escrever sobre como as coisas de fato são.

Recentemente eu e meu namorado jantamos com dois conhecidos nada próximos... o objetivo era sei lá, entre muitas coisas, sermos simpáticos e quem sabe transformá-los em amigos de 'fé'.

E pra começar, tenho que concordar com a Elizabeth Gilbert, quando ela diz no livro 'Comprometida': "não gosto de conhecer uma pessoa e não ficar amiga dela." Essa sou eu. Tive um amigo no passado que me disse: Fernanda, você me obrigou a ficar seu amigo, porque me rodeava toda hora! Essa aí, sou eu. Sou como cachorro, quero fazer amizade com todo mundo.

E entendo por amizade, qualquer troca carinhosa e bem-humorada de coisas da vida. Não precisa ser um amigo que vá durar por toda a vida, se assim não estiver previsto no script de Deus. Quero apenas trocar energia e felicidade com as pessoas, compartilhar, vibrar e rir com quem estiver na mesma vibe. As amizades podem ser passageiras, e isso não me preocupa... mas conhecer alguém e não ter com ela momentos genuínos de alegria e de bom papo, ahhh isso sim me exaspera.

Mas eu também tenho que entender que não é todo mundo que quer a mesma coisa que eu. Ainda não entendi, talvez nunca entenda, afinal cachorros não costumam pensar sobre isso (eu acho).

Enfim, voltando aos dois conhecidos, senti durante todo o encontro, que aquilo não era pra ser.
As horas voaram, quando dei por mim já estávamos conversando há 5 horas, mas foi um 'lugar' onde a coisa toda não aconteceu.

Pensei de verdade em como ser simpática e bem-humorada, mas acho que o tiro saiu pela culatra, porque depois meu namorado veio me dizer (e eu já tinha mesmo percebido) que falei palavrão a noite toda enquanto fazia as encenações das minhas histórias com ratos, cachorros, carro quebrado, preço da gasolina, culinária e toda sorte (ou azar) de assuntos que pude encontrar no meu HD cerebral pra preencher o tempo. Lembrei então que os dois conhecidos eram bons cristãos, e que provavelmente, enquanto eu achava que aquilo tudo ali era só falta de empatia, eles deviam estar achando que na verdade mesmo, tudo aquilo era um grande horror pra igreja católica (sei lá qual eles frequentam, gosto de todas).

A coisa não fluia nem por decreto da Presidenta. As histórias eram entrecortadas e contadas sem nenhum espasmo de emoção. A sintonia era fraca, a comunicação superficial e os olhares desfocados.

Já passou por isso?

Fato número 1: Ninguém estava de brincadeira.
Fato número 2: Ninguém queria ceder. A história pessoal de cada um era a mais importante, e a do outro... hammm, no mínimo desinteressante e sem nexo. Estávamos todos e cada um, num lugar bem hermético, a prova de balas, e até de piadas!

No dia seguinte pensei que tinha sido atropelada por um caminhão. Sim, porque eu fico martelando e voltando o filme, como quando você bate o carro e fica tremendo por uma hora.

A única coisa em que consegui pensar foi: A nossa varinha mágica estava sem bateria. A de todos nós. Só com ela poderíamos lançar mão dos nossos melhores poderes: amor, alegria e verdade.

Fato número 3: Tudo pareceu fake, como se estivéssemos sendo dirigidos pela diretora Amora Mautner. Na verdade não. Em Avenida Brasil, a mesa do Tufão tinha muito mais verdade e entusiasmo que a nossa.

E quando isso acontece, a empatia não acontece. Sei que deveríamos 'amar uns aos outros', mas também sei que essa teoria não é real sempre. Talvez seja preciso aceitar que em alguns momentos a sua presença não vai simplesmente resolver todo o problema de comunicação e sintonia. Vão existir momentos em que não é pra ser, não vai acontecer, e não tem nada que mude isso - ou talvez até tenha, mas não seja necessário mudar, porque aquilo é o melhor que poderia ter acontecido.

Isso tem a ver com o que falei em outro post:
Ter empatia com aquele grupo, foi a melhor coisa que não me aconteceu.

Sei lá porque eu deveria pensar assim, mas o fato foi, que fiquei muitíssimo incomodada.
Talvez porque a vida esteja passando rápido demais, e gastar 5 horas segurando varinhas mágicas sem bateria seja um imenso desperdício. Ou talvez porque me senti frustrada em não conseguir fazer aquilo tudo ser melhor... queria 'ficar amiga'.

Enfim, seja como for, vale pensar que dá sempre pra ser melhor. E também dá sempre pra lembrar de comprar a bateria pra varinha mágica. Bota um post-it na geladeira pra lembrar, pô!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Indulto de aniversário

Tava aqui pensando que eu bem mereço um texto pra mim mesma como presente de aniversário.
Aí pensei em que título daria pra esse texto... sei lá por que cargas d'água me veio o nome 'indulto de aniversário'.

Acho que devo ter escutado a palavra indulto nas últimas semanas, quando não se fala em outra coisa se não no Papa.

Fui ver no dicionário (eu adoro dicionário) e lá dizia:

s.m. Perdão, graça, redução ou comutação de pena.
Privilégio concedido pelo papa.
Decreto pelo qual se concede uma graça ou um privilégio.


Ahhh, me diz, não é perfeito?
É perfeito.

Receber um perdão, uma graça ou um privilégio de presente de aniversário... é o melhor presente de todos!

Mas o que mais gostei foi 'redução ou comutação de pena'. Pausa pra uma nova consulta no dicionário... 'comutação' eeehrrrr....s.f. Substituição de uma coisa por outra; permutação, troca.

De graças eu sou cheia. Nos dois sentidos. No sentido bem expressado pela minha mãe e vó: Não é Maria, mas é cheia de graça! E no sentido divino da coisa mesmo: sou agraciada por Deus.

Agora pensando no outro significado, em redução ou comutação de pena... Deixa eu pensar.
Como é o meu aniversário, vou criticar e elogiar a mim mesma. Se chegar ao final desse texto, você também poderá enviar seus comentários sobre mim. Ou sobre você se quiser, mas pode ter tréplica!

Já sei. Quero reduzir meus níveis de stress.
Não o stress que os outros, o trabalho ou vida me causam, mas o stress que eu mesma me causo. Me cobro de lembrar de tudo, de pensar em tudo, de estar sempre ligada, antenada, conectada e animada. É muito 'ada'. Eu podia estar só relaxada, desligada, desleixada e avoada.

Quero também comutar minha pena. Tenho várias sugestões, qual o email do céu?
Será ceu.agape@liturgiadivina.com.br?

Vamos lá:

- Ter um dia a mais de vida, pra cada dia que eu reconhecer que não tem ninguém no mundo como eu. E com o kit completo de motor, injeção eletrônica, ar condicionado e 500 cavalos que só eu tenho. Sou um mustang vermelho RGB 255, 0, 0 (pode testar aí no seu power point, dá vermelho).

- Ser menos ranzinza em troca de dançar na frente do espelho depois de tomar banho, ao som de uma música animada... até ficar louca e bater com a cabeça na parede ou o dedinho na quina do armário.

- Dar um monte de gargalhadas no lugar de pensar diariamente 'o que é que eu tô fazendo aqui?'. E acredite, eu penso nisso em vários lugares diferentes. Vai ver eu sou uma des-loUcada.

- Dormir mais em troca de gente sem noção. Aproveitar que elas me dão sono mesmo...

- Entender de uma vez por todas qual é a minha missão na Terra no lugar de bater com a cabeça todos os dias contra o machado da minha consciência.

- E por fim, dar mais crédito a minha intuição que não faz outra coisa a não ser me levar pros caminhos mais adoráveis que já pude conhecer, no lugar de dizer que acredito e adoro a minha intuição, mas de verdade, não a respeito.

Que nesse novo aniversário eu possa reconhecer as graças, contar as minhas bençãos, reduzir minha pena e me perdoar. E se o papa quiser me conceder algum privilégio, vou adorar ganhar os sapatinhos vermelhos que ele não mais usará a partir de amanhã, do meu dia.