domingo, 27 de janeiro de 2013

E o mundo gira loucamente


Assisti esse vídeo do The Weepies, e achei lindo 'esperar'.

Dizem por aí que essa banda queria mesmo é que as pessoas chorassem quando ouvissem suas músicas. São dois sensíveis incorrigíveis, diz a minha primeira impressão.

A música diz: e o mundo gira loucamente. E gira mesmo.
Nesses giros todos, o que me salva (de mim e dos outros) é a música. Como é bom ouvir algo que te faz bem, que vem de encontro com o que você precisa naquele minuto. E sempre vem.

Adoro música, não porque entendo muita coisa disso... mas porque sou só movimento. Sempre amei dançar, e não me pergunte o que especificamente, porque quem gosta de movimento, gosta de movimento... não dá pra explicar. Sei que desço as escadas de casa dançando, vou até o carro dançando e na hora de dormir, faço um passo bem bonito pra me jogar no meu lado da cama.

Acho que som e movimento nasceram um pro outro. Quem conseguir ouvir uma música boa, que ame e conseguir ficar parado, das duas uma: ou essa pessoa não é alguém que valha a pena, ou o som tá muito baixo. Som na caixa DJ.

Acho que sons te ajudam a construir boas cenas imaginárias pro movimento botar em ação. E o movimento te leva pra longe, não só fisicamente. Você já olhou pra uma pessoa e pensou:
- Eu não sei o que é, mas algo me chama a atenção... deve ser o jeito como ela se move.
Já? Eu já, porque é algo que me atrai nas pessoas de todas as idades e de todo o mundo. Gosto de reparar em como elas se movem. Ou em como elas não se movem... provavelmente porque são mais calmas que eu. Gosto de ver os bebês, fazendo aquele enorme esfoço, pra conseguirem se equilibrar por 2 segundos. Acho que preciso aprender com eles, ser mais consciente... e fazer movimentos mais lindos.

Repara só, é um exercício. Olhar o jeito como as pessoas se movem, pode te levar de encontro a você.
Vira e mexe olho pra alguém, as vezes desconhecido, e vejo trejeitos e jeitinhos tão lindos, que penso - porque não incorporar isso ao meu vocabulário? As vezes até penso em músicas pros movimentos de uma pessoa. Canto mentalmente enquanto ela se move. As vezes erro o disco. As vezes cai como uma luva e a música toca em looping.

Sou muito agitada, mas ainda acho que não tenho em mim, todo o repertório de movimentos que gostaria de ter. Tem muitas coisas que ainda não sei fazer: voar, andar de costas sem me desequilibrar, dar 3 piruetas seguidas, fazer uma ponte com a barriga pra cima, flexão e algumas outras que só me recordo que não tenho, quando preciso.

Dá pra ir a quase todos os lugares dançando. Não, eu não tenho vergonha, quem me conhece sabe bem. Amava as aulas de dança, porque eu encostava em alguém e passava a fazer parte do seu movimento.

Voltando ao The Weepies, ouvindo essa música agora, fiquei com vontade de dobrar os joelhos e cair delicadamente pra trás com os braços abertos... até tocar o chão com as mãos. E no chão, eu rolaria até encontrar outro movimento.

Definitivamente vou ser uma velhinha que frequenta bailes. Não pra encontrar gente da minha idade. Não só. Mas pra me deparar com outros movimentos e quem sabe incorporá-los ao meu corpo. Ou então, doar uns 3 ou 4 movimentos meus, se alguém estiver precisando...

E a respeito, quando vi o vídeo, achei lindo esperar, porque isso também é um movimento. As vezes de uma vida toda.





quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

De acordo com assessoria

“De acordo com a assessoria, o término se deu de forma amigável e foi consequência de um desgaste natural da relação.”

Que me interesso pelo banal, não há dúvidas. Li a frase acima numa dessas matérias da internet, onde anunciam o término de um namoro de atores famosos – que já namoravam há, digamos, um ou dois anos. Caramba.
Já pensou se sempre que você tivesse que terminar uma relação, seu assessor se encarregasse de informar a todos através de uma matéria num portal da internet? Seria bem prático, evitaria as perguntas nos almoços de família ou na roda de amigos, além de evitar gafes como: E o José tá bem? – Não sei, não tô mais com ele.
Mas tiraria a autoria... mesmo que não tenha sido sua a iniciativa, a relação é autoral.
Duas coisas me deixam incomodada na frase da internet, uma é que ela é padrão. Já vi diversas vezes essa mesma frase em rompimentos diferentes.
A segunda é que ela não pode ser verdadeira, por vários motivos. Não acredito que o término possa se dar de ‘forma amigável’. Términos dilaceram, términos destroem o que há de mais sagrado e divino em cada um. Rasgam as certezas, incendeiam as verdades. Términos colocam os romanos pra lutar, sem que você tenha o seu exército pronto pra te defender.
Você volta ao passado sem precisar de uma máquina do tempo, e revive mil vezes cada primeiro ‘olá’, em cada dia, na tentativa de fazê-lo melhor. Não pra você, mas pro outro.
E se com isso não consegue mudar o passado, parabéns, você acabou de perder o presente, e seu futuro não está garantido.
Não acho possível acordar, virar para o lado, encontrar outro olhar e dizer amigavelmente: Acho que devemos terminar... Colocar um freio nisso tudo – e o outro dizer: sabe que eu tava pensando a mesma coisa?!
Mãe, hoje vou almoçar e talvez dormir na sua casa, porque amigavelmente me separei da Lu!
Ele ou ela podem não ser o amor da sua vida, mas terminar é o deserto.
E que história é essa de ‘desgaste natural’? Já ouvi falar disso quando se compra um carro ou um eletroeletrônico, mas sobre relações, nunca. O natural é amar, não desgastar. O natural é cuidar, e não deixar que o tempo te fale quais são as regras.
Se cada vez que ele abrisse a porta de casa, você se jogasse no pescoço dele, fazendo-o derrubar as compras, casaco e guarda-chuva no chão, talvez não houvesse desgaste.
Se cada vez que ele quisesse dormir você o perturbasse com ideias idiotas e piadas sem graça, talvez o natural passasse a ser o resgate, e não o desgaste.
Um término não pode ser amigável, e um desgaste não pode ser natural. Não quando se acredita que dá pra fazer uma melhor versão de você mesma, todos os dias.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Insatisfeita com o resultado, até agora

Ouvi agora na TV, no jornal da noite:
A população de Mali se diz satisfeita com o resultado da guerra, até agora.

Pausa. Muita pausa.

Quem será que faz parte da 'população' que disse isso?
Tô aqui pensando que eu queria mesmo conhecer uma pessoa desse grupo 'população'.
Só pra ouvir todos os relatos relacionados a guerra de que ela se lembrar.

Não é possível que alguém fique satisfeito com o resultado de uma guerra.
Na verdade é, porque desde que nascemos, somos ensinados a ganhar e a perder. Na verdade, mais a perder... basta abrir a escuta pra uma família com um bebê que está aprendendo a andar.

Quantos 'nãos' são pronunciados em 1 hora de engatinhada?
Ao invés de darmos risada quando o bebê quebra algum objeto... ficamos zangados. Ele só queria testar o barulho. Ele perdeu, eu ganhei.
E quando ele inventa que quer colorir com canetinha as paredes do quarto? Ele com certeza perde. Eu ganho, sou mais velha. Podíamos ajudá-lo na pintura, ou fazer um concurso de 'melhor boneco de pauzinho' na parede, mas ficamos angustiados: - O que vão pensar se visitarem minha casa assim?

Tudo isso tem a ver com o elogiar a guerra na minha opinião. Como diz o ditado, enquanto uns choram, outros vendem lenço. Se alguns perdem, outros ganham. Quem ganha, elogia.

Acho que muitas vezes quem detêm o poder, desenvolve essa "brilhante" capacidade de ver beleza, onde não tem. E é onde não tem mesmo, não é como assistir a Kill Bill e achar aquele monte de sangue plasticamente bonito. Elogia quem não precisa, comemora o que é brutal.
Não vê Hitler, ele certamente achava seu resultado bonito, satisfatório.

Tem a ver com a missão de cada um. Tem a ver com como seu espírito se move.

Ontem foi um dia em que fui dormir triste, angustiada e com pouca esperança no coração.
Vi uma matéria que falava sobre a seca no nordeste. As vacas não conseguiam se levantar. Elas caiam. E eu tenho absoluta certeza de que não vou tirar essa imagem de mim, nunca mais.

Pra mim isso não é normal. Isso me dilacera.Alguém ganha com essa relação mais rico-mais pobre no nordeste. Alguém 'está satisfeito com o resultado da guerra, até agora'.

Quem será? Quem será?
Se alguém conhecer, me apresenta?
Só faria uma pergunta e depois disso deixaria essa pessoa falar por horas a fio.
A pergunta: esse resultado tem a ver com quem você queria ser?








sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cesta de vime é frescura

Outro dia, quando estava no quarto ouvi vozes de criança. Vinha lá debaixo, do térreo, estavam sentadas na direção da minha janela, num pano qualquer, fazendo um piquenique.

O cardápio, que eu acho que nem era o que importava ali, incluía suco na jarra de plástico da mãe de um deles e uns 3 ou 4 pacotes de bolacha doce e salgada. Não tinha frutas, nem pães como nos filmes de piquenique onde tiram tudo de uma cesta de vime maravilhosa.
Eles eram três ou quatro, meninos e meninas, e estavam ali muito tranquilos conversando, provavelmente, sobre a importância de fazer a amarelinha com giz (meninas) ou com um pedaço de tijolo (meninos).
Não consegui ouvir a conversa direito, sei que era casual. Quando vi essa cena pensei em quantas vezes deixamos de juntar pessoas, de montar o lego. Hoje em dia é preciso agendar uma pizza com os amigos pra daqui a três semanas, e ainda assim, saiba, alguém irá furar.
Acho que isso tem a ver com o que o Rodrigo Santoro disse um dia na TV – as pessoas estão muito distraídas. E lembro-me de ter pensado: colocou palavras no que eu queria dizer há tempos!
As pessoas dizem: Tá todo mundo estressado, com pressa! O mundo só corre.
Mas isso não é 100% verdade. Tem aquela parcela do mundo que está bem escondidinha, com medo de ser descoberta. São os robôs.
Parece-me uma espécie de catatonia generalizada. Fui procurar o significado dessa palavra, porque a achava apropriada, e dentre muitas descrições, encontrei: “Catatonia - Em outras palavras, a pessoa que sofre da doença, chega a parecer estar morta”.
Não é que é? Você vai ao supermercado, e ao chegar ao caixa o que encontra? Tcharam, uma morta viva (pode ser homem também, mas em geral é da nossa raça). Ela tem alguns poucos litros de oxigênio dentro do corpo, e se você der muita sorte, não acabará durante o seu atendimento. Às vezes acaba. A alegria no atendimento é tanta, que chega a entusiasmar.
Mas não se engane ela é rápida. Em menos de 5 segundos ela te faz três perguntas:
- nota fiscal paulista?

- cartão +?

- débito ou crédito?
Você não esperava por isso! O oxigênio deve ter acabado agora! Né possível. Depois ela segue se desligando da vida, passando item por item no leitor de código de barras, e embalando tudo com o maior cuidado (pode botar aspas em "maior cuidado"). Coloca frio com quente, uma sacola inteirinha só para o pacotinho de erva-doce – olha que privilégio, vai servir pro lixo lá de casa. Mas não pro planeta. Recuso, e como ela está ‘vendo a luz’, nem olha pra mim.
Eu ameaço sair assim que tudo está embalado, e ela? Ela fala ‘ESPERA...a notinha’. Assim mesmo, com ênfase no ‘espera’ e sobrevida no ‘a notinha’.
Eu, e acho que você também, passamos por isso em muitos lugares. Não sempre e nem com todos os atendentes do mundo, mas com alguma frequência. No posto de gasolina, onde o atendente algumas vezes se confunde com o boneco inflável. Na padaria, onde você nunca imaginaria que conseguir dois pãezinhos fosse tão difícil. E no restaurante, onde você precisa pedir o açúcar umas duas ou três vezes.
Da mesma forma acontece com quem é próximo da gente. Você já falou com alguém, e teve a certeza de que se começasse a falar do quanto você já abusou do crack, ele perguntaria: é mesmo? Onde você costumava comprar?
Eu já. Mas isso é porque falo demais. Sou verborrágica assumida.
Às vezes os mais próximos desaparecem por alguns segundos... Sim, na sua presença, claro. É porque eles estão em contato com algo que eu e você não poderíamos ver jamais. E também é assim quando seus amigos somem por meses. Tem os que sempre somem e sempre voltam, os que sempre somem e sempre prometem, e os que sempre voltam e nunca se vão – é algo que se sente no coração, na não presença física.
São como aquelas noivas ansiosas que estão preparando o casamento há dois anos. Durante a festa, elas dão o mesmíssimo beijo no rosto em todo mundo. Como assim? Como assim o beijo no meu rosto, que sou amiga é mesmo beijo que ela dá no rosto da tia que cuidou dela desde que nasceu, e pra quem ela sempre corre quando quer colo? É distração.
Não gosto muito de promessas, pra mim tem a ver com distração. Me chame pra jantar. Não me diga que vai me chamar pra jantar. É a promessa da promessa! E isso... hamm... parece distração. O que eu quero dizer é: não precisa jantar comigo se realmente não quiser jantar comigo. Acho muito legítimo que seja assim. Mas não me venha com ladainhas.
A pessoa num médio prazo não vai te chamar pra jantar, mas gosta da eterna ladainha: ‘precisamos sair um dia hein!’ ou ‘vamos combinar um dia sim’. O ‘passa lá em casa qualquer hora’ é o pior. Qualquer hora já quer dizer tudo, é hora nenhuma, se fosse alguma, seria específica: passa lá em casa as 20h! É distração porque parece um tom acima da verdade.
No piquenique aqui do prédio tudo é mais prático. Uma mãe dá o suco, a outra as bolachas, e eles acham um pano por aí pra sentar. Duvido que trocaram e-mails ou telefonemas pra combinar esse momento. No máximo tocaram o interfone ou gritaram lá debaixo: ‘desce aíiiii’.
Eles não são distraídos entre eles, eles só são distraídos com o que está fora da toalha do piquenique. Sem cesta de vime e sem frescura.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O escuro tem medo da gente também

Hoje, depois de estacionar o carro na garagem do condomínio, andando em direção ao meu bloco, ouvi ‘oi, você é de que bloco?’. Até olhei pra trás, achei que não era comigo.

Um menino, que deve ter seus 10 anos, tava falando era comigo mesmo. Eu que não enxergo lá muito bem, espremi os olhos pra tentar ver a cara dele direito.
Chegando perto dele, eu perguntei se ele tava falando comigo - ele disse que sim, e repetiu: você mora onde? Eu falei, moro no bloco 25, ele disse ‘eu também’ e veio andando ao meu lado, me acompanhando. Falei: você é o famoso Pedro Henrique, né?
E ele com cara de curioso, de quem não acreditava em como eu adivinhei aquilo, perguntou: como você sabe??!!
Pausa pra explicar: o Pedro Henrique é o nome mais chamado no condomínio, dez em cada nove crianças gritam esse nome o dia todo embaixo das janelas do bloco. A mãe dele, que sofre de histeria crônica, tem como diversão inserir um extenso acento circunflexo no ‘que’ do filho: Pedro Henriquêêêêê! E posso dizer com segurança que o Pedro já perdeu cerca de 40% a 50% do tímpano.
Enfim, minha resposta pra pergunta dele foi: eu sei porque escuto o pessoal te chamando.
A conversa foi tomando nosso tempo... acho que ele concorda comigo que é muito chato andar e não falar nada com o outro.
Eu quis saber porque é que ele queria saber onde eu morava, e porque estava me acompanhando lado a lado. Tá sem chave? – Perguntei. Ele disse que não, e no caminho pro nosso bloco, contou: Ahhh, porque eu tava com medo.
Fiquei surpresa: medo de que? Tipo, de alguns animais ou algo como um espírito?
Ah, sei lá, ele respondeu. Fiquei pensando. Quantos ‘sei lás’ um menino daquela idade pode conhecer? Porque quando a gente diz isso, significa um monte de coisas. Significa: sei lá, medo de ficar sozinho, de magoar as pessoas com as nossas decisões, de dormir e não acordar, de acordar e nunca mais dormir, de não ter grana pra pagar as contas ou forças pra tomar banho.
Eu não sosseguei: Como assim sei lá, você falou que estava com medo e agora não está mais?
E ai vi que ele se envergonhou de ter falado uma verdade tão sincera pra alguém que ele mal conhecia – e que eu, àquela altura devia estar pensando que ele era um frouxo.
Insisti, e nada. Ai joguei meu tapete: eu também tenho medo sabia?!
A diversão estava garantida. Ele todo curioso com cara de quem diz ‘e agora, quem é o frouxo aqui hein’ – perguntou então: Ah é! De que?
Vendo todo aquele breu a nossa frente, falei pra ele a mesma coisa que ele teria me dito 15 segundos atrás... se não ‘fosse’ frouxo. Respondi: tenho medo de escuro. Ele concordou: eu também! Comentei que aquele seria nosso segredo, e ele falou que já tinha contado isso pra namorada dele, e dando tchau, subiu pro apartamento dele.
Fiquei pensando em como é difícil saber do que temos medo. As vezes é muito concreto, por exemplo, se nos depararmos com um leão esfomeado. As vezes não é escancarado assim... pode ser que o medo venha vestido de alguém independente, que nos deixa de canto por algumas horas. Ou pode vir vestido de milhares de desculpas, o suficiente pra perdermos a coragem de mudar. Pode vir com cara de sucesso ou de fracasso, e seremos muito fracos ou muito fortes pra encarar, respectivamente.
Eu tenho medo de errar na mão, de refletir demais sobre tudo, de ser prática e confusa, de perder o romantismo (e o romance), de me tornar cruel demais, de ser mais do mesmo. Tenho medo de que as pessoas se percam em tristezas eternas, daquelas que duram a vida toda. Tenho medo de ser mulher padrão, mãe padrão (cronicamente histérica), esposa padrão, amiga padrão, funcionária padrão. Faz bem feito, é eficiente, e só. Tenho medo de perder o olhar especial sobre as coisas e achar que tudo é comum. E a única coisa comum, é ter medo.
Que o Pedro Henriquêêê não perca os outros 60% do tímpano, nem o medo que leva no coração.

Pegou o guarda-chuva?

Mandei um texto que tinha escrito para um amigo, e ele começou o email de resposta assim:
“Você parece que esta na linha entre realidade e imaginação. Como se vc estivesse a ponto ou preparada pra sair voando no seu guarda-chuva rsrs ...”
Quando li, fiquei congelada, e reli. Como com tão poucas palavras ele me fez visualizar uma cena tão bonita? Me fez lembrar o filme da Mary Poppins!
Gosto de estar entre a realidade e a imaginação. Tem alguém que não gosta? Se tiver, me avise que não quero conhecer.
Na imaginação, é como se você sempre tivesse permissão para errar, e ainda por cima achar isso muito divertido. A imaginação salva todos os dias da minha vida... e nem sei como seria explicar pra alguém o que é não viver 100% dentro da realidade. Ninguém acreditaria. Esperaria respostas como:
- Você é louca!

-É... mas na realidade não é bem assim (pode substituir realidade por ‘prática’, muito usada hoje em dia).

- Você vai ver, quando isso ou aquilo acontecer, você verá que tudo muda! (Já me falaram que aos 30 anos bateria a vontade de ser mãe. Estou nos 31. Sem filhos.)

Acho que muito se tem feito para limitar a imaginação das pessoas. Outro dia vi uma ilustração: tinha uma fila de 3 ou 4 alunos em suas carteiras escolares, e acima da cabeça de cada um deles, um balão de pensamento bastante disforme. E então, a professora vinha com uma tesoura e deixava todos os balõezinhos iguais, com o mesmo formato quadrado e pequeno.
Parece-me que isso acontece desde que nascemos! Ser diferente hoje em dia, é engraçado. Todo mundo diz ‘você é muito diferente’...e as vezes é só porque pintei uma antiga geladeira de vermelho. Mas o padrão hoje é branco, ou quando se tem muito dinheiro, cromado. Então, sou louca mesmo... passaporte para o manicômio please.
Tenho uma imaginação muito grande sobre muitas coisas. Por exemplo, porque não se constroem teleféricos para as pessoas usarem para irem ao trabalho? Teleféricos de muitos quilômetros, ligando as casas, as pessoas, as empresas.
Já pensou também se conseguíssemos fazer uma ‘ola’ de buzinas de carro. Do tipo, eu começo buzinando aqui, e você 3 quilômetros a frente conclui com um lindo buzinaço? Mas buzinar é sinal de histeria, stress e impaciência. Eu não acho.
Já imaginou se quando alguém dentro de casa perguntasse ‘pegou o guarda-chuva?’ – ela estivesse se referindo ao seu meio de transporte? E você respondesse: peguei sim amor, inclusive tá abastecido... de balas, chocolates e suco de morango com leite! E você apontasse o guarda-chuva pro céu e saísse voando... pela janela claro, sem essa de sair pela porta como alguém sem imaginação.
Minha imaginação ferve... queria poder dar um bombom de presente de aniversário, e ver a pessoa emocionada verdadeiramente com o presente. Hoje em dia, o presente está diretamente ligado a seu valor de mercado. Poder dizer ‘não quero ir até a sua casa’, e ter a certeza de que o anfitrião achou minha resposta muito natural. Ele até agradeceria por compartilhar amorosamente tanta sinceridade.
Também seria bom namorar eternamente. Sem essa de seguir a regra padrão cegamente: namorar, noivar, casar na igreja (como bons cristãos fervorosos que somos. Não somos?!), ter filhos e tingir os cabelos brancos mensalmente. Se fizer sentido, acho válido. Aliás, esses dias alguém me disse que noivaria! Como saiu de moda, até achei muito ousado. Gostei.
Quero me casar todo dia, usar na mão direita minha aliança de prata (diz o vendedor) comprada numa barraquinha da praia, brigar com meu namorado reivindicando meus dias de direito (sem exceção): sextas, sábados, domingos integralmente e no mínimo! Poder vê-lo no cozinha muito à vontade com medidores, farinha, tigelas e uma bagunça gigantesca, ao invés de mantermos o padrão ‘mulheres no fogão’.
Tem que se ter imaginação, pra aguentar a realidade de que há lugares no mundo sem comida, sem água e sem o principal: amor. É preciso usar a imaginação para transformar a realidade – e ultimamente tem se visto o contrário.
Minha imaginação é mil vezes mais real que a realidade. Imagine se pudéssemos criar cenários e realidades inteiras como no filme ‘A origem’? Na verdade até podemos, mas dá trabalho, cansa, e é muitas vezes uma luta contra a maré... e outra, qual é o cartório que vai atestar que a sua imaginação é real? No máximo te darão uma cópia autenticada, e em muitos lugares, cópia não é aceita, nem a autenticada... e é assim na minha imaginação.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Do que sou feita

Muita gente já me disse: "vai, escreve um blog logo."

E é por isso que estou aqui.
Na hora de criar um título pro blog, pensei: Caramba, como devo chamá-lo???

Pensei então que eu gostaria de escrever aqui, sobre aquilo que me toca, me move, me co-move.
Sobre as coisas me incomodam e me agradam, e como disseram naquele filme lindo 'Histórias cruzadas'... "especialmente se essas coisas não incomodarem ou não agradarem a mais ninguém."

Acho que escrever é um processo de descoberta pessoal. Um processo de encontrar (ou re-encontrar, caso você já tenha tido a felicidade de se descobrir 100%), de dar de cara todos os dias com aquilo de que sou feita. É um processo de abrir com chave, mas por dentro.

Ainda não sei tudo de que sou feita. Mas sei muita coisa.
Sei que sou feita de puro empenho e comprometimento em descobrir do que mais sou feita.

Sou impulsiva, desesperada, desconfiada de mim mesma e muitas vezes gosto de usar um humor nem sempre entendido por quem me cerca.

Sou feita de partículas brilhantes que saem por aí, sempre que me destroço com as coisas da vida.

Tenho em mim também, milhares de cristais de açúcar, que gosto de distribuir em saquinhos transparentes de amor, quando acho que tudo está árido demais.

Tenho em mim, o sol, o calor e o vento levinho.

Também sou feita de emoção, muita emoção. O suficiente para eu achar que nada é importante, enquanto o meu espírito de fato não estiver cumprindo a missão a qual ele foi destinado.
Passo horas pensando onde eu deveria estar agora. Sei que ainda falta achar.

Sou feita de alegria e de alergia à pessoas desatentas e grosseiras. E também àquelas que dificultam a vida. Uso muito as palavras 'sempre' e 'nunca', embora eu tenha certeza de que ambas representam tempo demais.

E se Deus me fez em algum tempo (ou em muitos universos paralelos), sei que o tenho dentro de mim. Então quando quero ajuda, procuro em tudo de que sou feita, pois ali está a resposta. No delicado essencial.