segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ainda não tem nome

No meio de tantas manifestações, de tanta de gente indo as ruas para conquistar, eu observo.

Saindo do aeroporto entrei num táxi aqui no Rio de Janeiro. A primeira coisa que a minha boca resolveu perguntar foi: E aí, como andam as manifestações por aqui?
O taxista velhinho respondeu: Aahh, tá tendo aí... o povo tá reclamando por que o 'passe' aumentou vinte centavos.
Eu respondi: É? Mas acho que não é só por isso mais não...
Ele: Aah, aqui no Rio é sim... é só porque aumentou o passe.
Eu: Ahh, entendi...

Entendi que ele não anda lá prestando muita atenção no que tá acontecendo no entorno dele.
Mas também pensei em deixar pra lá: Porque deveria (ou poderia) ser eu a entrar numa discussão e mostrar outros aspectos da discussão? Ele era um casulo.

Nos outros dois táxis do dia seguinte a mesma coisa: discussões sobre si, não sobre o mundo.
Cada taxista entrou numa discussão solitária e fervorosa sobre impostos, verdades, eleições, corrupções, dinheiro para todos...e pasme, um deles até falou de mágica enquanto se referia sei lá a que. Nesse ponto eu me desconecto internamente e deixo fluir.

Hoje pensei muito sobre essa questão das manifestações. Tem gente contra. Tem gente a favor.
Tem gente em cima do muro. E tem a categoria em que me enquadro, mas não sei dar um nome.

Acho que sim, a manifestação é linda. Acho que não, não é por vinte centavos.
Acho que há policiais bons. Também há os ruins. Acho que há pessoas sensíveis tentando mostrar o seu amor pelo país. E acho que existem os que querem extravasar a raiva numa janela de vidro de um banco da avenida principal de São Paulo.

Como sempre, somos muitos. Como sempre, diferentes.
Não saio as ruas, talvez por falta de coragem no coração... mas meu pensamento está lá.
Observo e sei que a mudança é espiritual, não mais humana. Não é desse plano.

Por muito tempo as pessoas calaram. Uma hora iam falar.
E nas redes sociais vi muita gente dizer: Mas o que eles querem com tudo isso? Qual o objetivo real e imediato desses movimentos?

Eu sei qual é. Você também. Só que isso não tem um nome. E por que precisaria ter? Porque a gente precisa encaixar tudo em compartimentos, gavetas e caixinhas com puxadores enferrujados?

Isso é novo. Não tem nome ainda. E talvez não precise ter.

O que vemos por aí no governo antes disso tem nome e acredite:
não é bom, não ajuda, não cura, não preza pela justiça, não é honesto e nem sempre tem valor.

O que se quer agora, é aquilo que você desconhece. Porque não existiu antes, você nunca viu essa revolução. Como diria Clarice Lispector: Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.

E não é porque não tem nome, que não se pode gritar.
Se exima de colocar um nome e registrar em cartório. Não dá pra fazer isso com o espírito... e ele agora descobriu que é livre.

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