quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

De acordo com assessoria

“De acordo com a assessoria, o término se deu de forma amigável e foi consequência de um desgaste natural da relação.”

Que me interesso pelo banal, não há dúvidas. Li a frase acima numa dessas matérias da internet, onde anunciam o término de um namoro de atores famosos – que já namoravam há, digamos, um ou dois anos. Caramba.
Já pensou se sempre que você tivesse que terminar uma relação, seu assessor se encarregasse de informar a todos através de uma matéria num portal da internet? Seria bem prático, evitaria as perguntas nos almoços de família ou na roda de amigos, além de evitar gafes como: E o José tá bem? – Não sei, não tô mais com ele.
Mas tiraria a autoria... mesmo que não tenha sido sua a iniciativa, a relação é autoral.
Duas coisas me deixam incomodada na frase da internet, uma é que ela é padrão. Já vi diversas vezes essa mesma frase em rompimentos diferentes.
A segunda é que ela não pode ser verdadeira, por vários motivos. Não acredito que o término possa se dar de ‘forma amigável’. Términos dilaceram, términos destroem o que há de mais sagrado e divino em cada um. Rasgam as certezas, incendeiam as verdades. Términos colocam os romanos pra lutar, sem que você tenha o seu exército pronto pra te defender.
Você volta ao passado sem precisar de uma máquina do tempo, e revive mil vezes cada primeiro ‘olá’, em cada dia, na tentativa de fazê-lo melhor. Não pra você, mas pro outro.
E se com isso não consegue mudar o passado, parabéns, você acabou de perder o presente, e seu futuro não está garantido.
Não acho possível acordar, virar para o lado, encontrar outro olhar e dizer amigavelmente: Acho que devemos terminar... Colocar um freio nisso tudo – e o outro dizer: sabe que eu tava pensando a mesma coisa?!
Mãe, hoje vou almoçar e talvez dormir na sua casa, porque amigavelmente me separei da Lu!
Ele ou ela podem não ser o amor da sua vida, mas terminar é o deserto.
E que história é essa de ‘desgaste natural’? Já ouvi falar disso quando se compra um carro ou um eletroeletrônico, mas sobre relações, nunca. O natural é amar, não desgastar. O natural é cuidar, e não deixar que o tempo te fale quais são as regras.
Se cada vez que ele abrisse a porta de casa, você se jogasse no pescoço dele, fazendo-o derrubar as compras, casaco e guarda-chuva no chão, talvez não houvesse desgaste.
Se cada vez que ele quisesse dormir você o perturbasse com ideias idiotas e piadas sem graça, talvez o natural passasse a ser o resgate, e não o desgaste.
Um término não pode ser amigável, e um desgaste não pode ser natural. Não quando se acredita que dá pra fazer uma melhor versão de você mesma, todos os dias.

5 comentários:

  1. Muito perspicaz e real esse seu comentário sobre um "desgaste natural da relação", pois pra mim isso não existe.
    Quando um relacionamento termina é um sofrimento só...
    Acabo de sair de um relacionamento de 6 anos e está sendo insuportável!
    Mas eu não seria capaz de colocar em palavras tudo isso, da forma que voce colocou.
    A indicação foi de uma amiga.
    Vou acompanhar seu blog de agora em diante.
    PARABÉNS.

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  2. Postei seu link no face... e foi assim que comentei... Adorei!


    Essa menina escreve bem demais... e fala do que rola dentro dela... que é tão interessante..
    Para quem vai na dança das sextas, ela é aquela mocinha alta que mexe os ombros de um jeito muito lindinho (embora eu adore todos os jeitos de mover ou não os ombros - especialmente porque os meus ainda não aprenderam a se movimentar) e o namorado/ marido dela é um fofo que fica sentado mexendo no celular e eu costumo levar a roda para passar na frente dele só para brincar com ele...

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  3. Obrigada 'Anônimo' pelos elogios e por compartilhar sua história comigo!!

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    1. Adorei! Parabéns!

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    2. Obrigada Zu!! Que bom que leu e adorou! rsr
      Adorei você ter lido tbm!

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